domingo, 8 de agosto de 2010

O Crepúsculo na sexta-feira do proletariado e o inocente

Certa vez estive a procura dos documentos para o meu primeiro emprego, na minha volta para casa durante o fim da tarde naquela típica sensação de término das obrigações semanais. Deparei-me pela primeira vez com as pessoas que estavam a minha frente no ônibus. Elas tinham expressões bastante surradas, com a cara de derrota em pleno fim do ultimo dia do trabalho daquelas pessoas, funcionários do serviço de limpeza municipal, empregadas domésticas, de supermercado, trabalhadores das próprias empresas de transporte público, pessoas que fazem bico e demais trabalhadores.

As mesmas me passaram expressões bastante assustadoras, olhei para elas como se estivesse olhando num espelho do qual me destina em parte, no exato momento em que estava inocentemente eufórico atrás da minha papelada para o primeiro emprego. Me deparo com aquelas faces queimadas do sol, suadas, surradas de uma longuíssima jornada semanal. Muitos com seus filhos nas costas para alimentar com seu curto salário, outros com os filhos, a necessidade, mas sem o salário, as mulheres dormiam extremamente cansadas, um homem cabisbaixo com a farda do setor de limpeza buscava a mínima sensação de prazer no seu celular com rádio tocando asas morenas, o homem do seu lado estava com sua pequena grade de cervejas para matar pelo menos um instante aquela sensação de não-consumo da sua vida.

Todo aquele meu sonho foi reconfigurado do qual estive agarrado na certeza da independência financeira e do qual estaria entrando para uma etapa da qual estaria mais liberto e que seria uma grande conquista. Mas outras realidades caíram cruas em minha frente, consegui enxergar parte daquilo que se torna de fato. Libertamo-nos de uma prisão para entrar em outras dependências a todo instante, os problemas que acabam são apenas a gênese dos problemas posteriores. Estas impressões transformaram bruscamente o valor daqueles papéis dos quais eu segurava com tanta certeza, tornou-se algo mais duro de engolir.

É um ciclo do qual estamos a fadados a entrar queiramos ou não, mesmo cansados, ou mais explorados, alguns possuem seus filhos para educar, sua casa para administrar. Outros solitários como eu também estudam com a perspectiva de melhorar e renovar os problemas, ou seja, o nosso tempo está sempre consumido por obrigações para nos manter com valores que internalizamos e às vezes não percebemos que outras pessoas também lutam para um dia conseguir a suposta "tranquilidade."


[Miguel]

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Troféu de bosta!

É impactante como nos deparamos com certas situações difíceis e como nosso inconsciente nos envia uma reação de bengalas a certos desafios que procuramos apoio externo e nos deparamos com nós mesmos. Acabamos às vezes, esquecendo do principal personagem e que garante realmente o sustento do desafio, que ganha, perde, ou os dois ao mesmo tempo naquilo que interessa. Assim estabeleço uma relação da covardia x coragem e uma perspectiva para a vitória e a dor no caso desse personagem do texto.

Em uma situação que o indivíduo “Voltairiano” prepara-se com equipamentos supérfluos e um batalhão, mas na hora exata, cadê o batalhão? Cadê o funcionamento das armas? E começa uma luta com ele mesmo para achar a resposta. O que sobra é o corpo nu ao inimigo, com quem menos contava foi o que restou sem preparo, o corpo foi mutilado e arrasado com a derrota, então ele se entrega ao desespero e joga a culpa da sua derrota nas suas armas e companheiros, cada dia o atormenta com a derrota após derrota, tentando inovar nos equipamentos, implora aos companheiros e táticas novas para vencer a sua luta, a derrota o aflige a cada instante, o desespero está tomando conta da alma e do corpo agora sem saída.

No ultimo pulsar dos neurônios e do coração, lembra-se quem era o culpado verdadeiro da derrota, o próprio indivíduo, arranca sua roupa, amassa suas armas, e se joga na noite mais fria e mais solitária de sua alma. O perigo e a dificuldade são extremamente maiores, cada fatia do seu corpo que corta, cada queimadura, cada pedaçinho arrancado, torturam até o ultimo elétron da “energia vital”, cada gota de sangue derramado parece que arrancaram séculos de sua vida. Então, ele olha para o seu corpo esfarrapado no chão, quase em putrefação e em frente seu inimigo morto, caído, após 2 meses de batalha e desespero. Levanta sua carcaça que aos poucos se regenera, cada gota de sangue re-bombeado, pele cicatrizada.

O que era podridão se levanta vitorioso mesmo com os pedaços arrancados, por mais que o significado da luta seja inútil ou grandioso, ele olha para o seu ego e responde: “Finalmente, precisei do principal para o que é meu, a anestesia causou a minha derrota. O sofrimento e a dor persistentes agora não existem mais, meu orgulho egoísta e vitorioso agora se questiona e conclui. Mesmo esse troféu sendo de matéria fecal, é meu, a doença é minha, a luta é minha, a derrota é minha, o troco do soco é meu, e o troféu de bosta... Está no meu armário exposto ao mofo."
[Miguel]

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

E Daí?

Não aguento mais! É crise existencial, crise econômica, crise intelectual, crise imobiliária, crise moral, crise cristã. E os meus pensamentos? E os meus desejos?
O vício, as virtudes, a malicia. O olhar por debaixo do chapéu, visando às pernas do outro lado da sala de estar, fala mais do que aquela conversa que acontece ali na praça. Meu corpo já esta anestesiado de tanta vacina, tanto anticoncepcional, tantas regras! Esqueço de lembrar do homem que esta a me incomodar ali na esquina toda vez que saio de casa, quer dinheiro pra fazer uma intera pra comprar alguma “coisa”, e aquela velhinha que faz questão de me lembrar que na época dela as coisas eram de outra forma, mas e daí? O que tenho a ver com isso? Sou de outra época!
Tem ainda aquelas bombas que mataram milhões, e daí? O que importa é que estou vivo! Sim, tem umas criancinhas lindas na África que estão com fome e sede. Eita! Quase me esqueci que tenho um banquete com o presidente da Argélia. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que esqueci que marquei com uma prostituta de dezesseis anos as 7:00 horas, pois, estou sendo legal contribuindo pra sua renda familiar. Mas, e daí?



Gilmar Sullevan

Tópicos para formação do entendimento de alguém

- Compreensão: talvez este seja o ponto crucial em qualquer situação que transcenda o espaço individual, que permeie as relações interpesso...