terça-feira, 21 de novembro de 2017

Facebook pergunta: "Quem é você?"



Quando nos apresentamos ao mundo em uma simples descrição de rede social – porém se tem "a consciência de que a metafísica é uma consequência de se estar mal disposto", como disse Fernando Pessoa, imagino: como poderia saber quem sou, diante da infinidade de somas de causas e efeitos de toda matéria e energia que existem no mundo desde o big-bang, e que construiu minha minúscula carcaça e tudo que gera significado posto na minha cabeça durante segmento da minha existência? Como poderia - também - descrever sinceramente aquilo que minha cabeça se sabotaria a externar para vocês através dos esconderijos do arco-reflexo do aparelho psíquico? Qualquer convicção incompleta ou mentirosa sobre si mesmo para um fim prático será mais lucrativa ao eu e ao mundo (por que não a esse?) do que o “eu” comprometido com a verdade do todo. Essa - a tal verdade do todo -, que é a equação em rede de tudo a todo tempo, que compõe o universo e o corpo com uma cabeça que pensa si mesmo, não está ao alcance. O eu completo são fragmentos soltos de um corpo: um pedaço do joelho amarrado a uma bola de ferro no fundo da zona abissal; um dedo misturado a lava do manto inferior terrestre; o estômago que está escondido no planeta Mercúrio e um pedaço do cérebro que ficou lá na borda do universo, cujo primeiro raio de luz sequer chegou aos nossos olhos - mesmo com a viagem de 13,2 bilhões de anos luz-, esses nossos pedaços de eu ainda não foram vistos. Alguns outros pedaços são visíveis e estão aqui, mas a verdade do todo eu é um objetivo inalcançável e talvez sem graça e quem sabe uma piada se fosse possível. Qualquer mergulho à jornada da busca desse todo é uma viagem nauseante para todos os labirintos sem saída. Tendo isso em vista, só restam os pedaços práticos, o incerto a se administrar e o não-verdadeiro. Portanto: "Olá, sou Carlos, tenho 37 anos, casado, tenho duas filhas lindas e um pastor-alemão".

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

E esta tal "mãe natureza"?




  Chronos, Deus do tempo.
     Se fôssemos seguir essa analogia errônea do título sobre a relação do homem com tal mãe, a humanidade seria um filho viciado em crack, cuja única finalidade seria consumir e tentar - e apenas tentar - controlar a própria morte em um segmento do futuro. Essa mãe continuará a viver após a morte do seu filho e, por mais que a humanidade mate, roube e destrua tudo e a si mesma, a natureza continuará, sem pessoas, por mais que essas se julguem importantes sobre a determinação do futuro das coisas. A vida também continuará aqui ou em outro lugar na galáxia ou no universo, haja vista a necessidade da contingência da vida independer da vontade humana, logo as coisas em grande escala continuarão coisas nesta ou em outra matéria. Além disso, a própria defesa romantizada da natureza é uma atitude travestidamente egocêntrica, pois o homem quer instintivamente sobreviver, adotando-se o lirismo do “que peninha mico-leão dourado” para esconder a real perversidade: degradar tudo e os outros por um pouco mais de conforto. Portanto, nossa importância na escala do início ao fim no espaço-tempo do universo é insignificante e o alcance da ação da humanidade se estende da ruptura da vida local a sobreviver um pouco mais ou um pouco menos. A necessidade do acaso, força real do universo, fará vida aqui ou em qualquer outro lugar independentemente da obsessão humana em controlar, pois a natureza é não só nós, mas o resto do universo, alheio à consciência sobre as coisas. Obsessão essa, importante relatar, é consequência de não podermos controlar o único futuro a que nos destina: a certeza de nossa própria morte.

Tópicos para formação do entendimento de alguém

- Compreensão: talvez este seja o ponto crucial em qualquer situação que transcenda o espaço individual, que permeie as relações interpesso...