quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os sonhos parecem com as imagens da existência, os caminhos, a mente do cineasta, as relações de troca entre os humanos, medos e desejos, angústias, interesses materiais, perspectivas , o amor, o afeto . . .
Nunca houve , ou se houve , um sonho muito abstrato. . . deve ter sido na ausência de quaisquer uma dessas coisas acima citadas ou na permanência da própria mecânica , do movimento; do qual os humanos estão sob o efeito .
Sonhar com o céu, o mar, o Luar, um jardim, a chuva, a Fé, tornariam as coisas mais belas, aliás, tiraria o ser da esfera efêmera e colocaria os fatos no infinito, no ciclo ininterrupto da essência natural, intimamente.

( Nauta. Cadernos 2009 )
A partir do momento que deixo de ser eu
Passo ao estado de Poeta
Aquele que sente
Aquele que não quer pensar
O que vê
E nas encostas e nos morros
Pelas ruas da cidade
Vou observando
Vivendo por entre imagens
Até os céus se fazem imagens
Por entre sonhos posso até caminhar
Mas a realização
Só com o trabalho virá
Prefiro seguir em remotas plagas
Tão remotas que nem me encontro
Continuo em minha espaçonave
Flutuo em imaginação
Imagem
Ação !!
E mesmo que não faça tudo o que quero
Nem possa tudo aquilo que sonho
Procuro sempre estar no possível
Pois não me iludo com o improvável
Vou devagar
Pois o tempo
É o caminho
Por onde ando
Vôo
Passo
Sigo
Conhecendo
A mim mesmo
Para Poder
Encarar o Próximo
Como me vêm
Aos olhos

( Nauta. Cadernos. 2009 )

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vocês

A face é tão móvel e tão falsa.

Falar e sorrir pode-se fingir ser verdadeiro,

Quando somente se é encenação.

Negar, aceitar, fingir, ação, reação!

De tão belas as faces em movimento,

De tão tola a percepção.

Brincar, cair, chorar, ação imediata, inconsciente?

Pensar, ser atriz, falsear de forma quase imperceptível.

E construir ao mesmo tempo em que se destrói o invento.

Enquanto isso... Esvaem-se no ar minhas paixões!

Impossível ver, tocar, sentir o vermelho fosco, tosco!

Que borbulha em um caldeirão de idéias caducas, malucas?

Logo, pensar, armar, chorar, matar, falar, pode-se ser meus eus!

Mais ai penso, armo, choro, mato, “falo”, e finjo...

Não sou meus eus, pois são seus eus, que fazem sentir-me assim.

[Gilmar Sullevan]

domingo, 24 de outubro de 2010

Forças

Morri? Que cansaço é esse?

Membros e pensamentos não respondem

Desejo, olho... Isto é água?

Estou totalmente consumido

Busco comer a vida, mas ela parece me repulsar

Tapando com sua mão a minha boca faminta

Perco as forças e a resposta do corpo

Quero seguir! Recuso-me a parar!

Não quero te dizer adeus!

Quero te ver todos os dias

Cheirar as flores que brotam no jardim e no esgoto

Quero me deliciar dos momentos de prazer e desprazer

Porém, parece óbvio a imprevisibilidade previsível

Que não tem mais graça rir e sofrer, depressão? Não

Alguma doença psicogênica? Talvez

Mas assim que te ver... Abraçarei e darei mais um bom dia

Andarei com essas pernas arrancadas

Mesmo que rasteje sem estimulo

Recuso-me a parar!

Quando olhar para trás, perceberá o quanto cresci

Não quero morrer nas desilusões

Apenas passar as estações e não mudar o que já fiz.

Quero mesmo viver o eterno círculo do existir.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um pouco chegando terra a dentro
Me conduz, nau do pensamento
que antes estivera, tortura (?)
ou aquartelamento
Entre montes, caatinga, pedroso
Se ergue
Cruzes, arcabuzes, sol-trópico
ferve o sangue, o conjunto
da união de uma tribo
Qual teria sido a origem
Que origem ? Terra de ninguém
Subir ao sábado
melhor ao Domingo
depois da praia
A pé
Espera de pensamento
Sempre criando
Sou poeta

Não me engano
A coração
Agora é
Amor à minha terra
Caminhar pelas mangabas
Aos cavalos
Fortes
Tão fortes
Atracadouros
que mais parecem
Pontes
Mãos D'agua
Mercado
Cidade que ergue
e tudo vai mudando
Armas, Drogas
Educação
Em misérias
Trabalho
só em trabalhar
Reescrever
Viajando
na miséria
cognitiva
mental

Fui índio, em cima da cruz
Percorrendo o horizonte em busca de Colônia
Acampamentos e acampamentos, assentados
onde esteve a mata atlântica, no alto
Fui no Poxim, de barco
Tainhas, Cigarro
O Folclore estava lá, entre mangues
Sangue, da minha terra
Desconheço seu início, nem
Nem muito menos
tampouco
seu fim !

Nauta. Cadernos 2009
A noite acalma
Atravessada de chuva
respinga toda a rua
e os meus pés
molhados
feridentos
me levam
me trazem
no trem
de Bike

A Noite acalma
de Inverno
Visto os meus olhos
Primavero
Acordo meio Filósofo
E caio
Em sono Profundo
Acordado
Novo
um garotão
E ainda passam vozes
ainda passam passos
Surtos de velozes
como quero
O doce na boca nova
cheia de dentes
Espero
Os ônibus passam
Ainda é cedo
Estio intermitente
Seca de gente
Sem precedentes
Sob a luz das pontes
Travessias e rios
que levam escuridão
e Peixes
desejos também
Saudade do Morro
nos tons de Verão
O espaço
Até onde a vista enxerga
Estou sentado
atrás do portão

Espero
Fumaço
Fecho os olhos
Durmo

( Nauta, Cadernos: 02/08/2010. )
Para O Camarada


Na Boca de pés descalços Com um par de chinelos
E agora sem um deles
É osso, e morar no interior
Se é do Ceará, Agora tá
Em Lagarto, e falava
do rolo de fumo
De um Real
E toma Limãozinho
E toca Violão
Agora, procura a chinela
E cadê, Seu Pé
A chinela
Procuraê
Só sei que não fui eu
E achou o que tinha esquecido
Seu Pé dormiu
Mas achou o seu chinelo
No meio da Galera


( Nauta, Cadernos: 20 outubro, 2010 )

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eu e o Verbo

Vou, volto, busco, acho

Perco, retorno, sigo, nado

Reencontro, fumo, cego, acabo

Caminho, chego, finalizo, começo

Penso, quero, corro, jogo

Roubaram, rasgo, desencanto, odeio

Tenho, abstenho, nego, afirmo

Repito, conserto, amo, termino

Circulo, circulo, quero, querer

Falo, mudo, vejo, viver

[Miguel]

Poético



Se se pode ser gente, e tão demente contente
Como uma flor que desabrocha e morre no deserto,
Sem sentir a dor que é nascer e morrer de repente.
Assim o homem sorri quando é engolido por seus irmãos.
Finge não sentir dor, para ostentar ser forte.
No momento da morte chorarei, pois, não posso ser Teseu.
Ser forte é somente fingimento poético, quem sabe até estético.
Rir, chorar, apaixonar, prazer em sofrer é amor de tolos
Prefiro o sangue escorrendo na pia,
E comer um lindo e farto banquete de vísceras humanas,
Afinal nos banqueteamos de nós mesmos todos os dias!
Sentir a dor da faca abrindo minha barriga e eu mesmo tentado me costurar,
Sentir o medo através do reflexo dos olhos alheios.
Pois comerei do teu corpo, e me embriagarei no teu vinho,
Só pra te provar que todo o poder, resplandece sobre mim.

[Gilmar Sullevan]

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Os homens e os seus podres “poderes”

É interessante se observar como se é criado na cabeça humana, a sensação de poder e de bem estar social através dos bens, que tenhamos, e de respeito e/ou medo pelos títulos que conseguimos obter durante nossa vida. Vou contar uma observação que fiz sobre duas pessoas que tem problemas mentais e que sempre andavam por perto de onde eu moro, e da sacada de casa eu os observei por alguns dias.
Um deles só vive rindo e sempre estava sentado em alguma calçada que tivesse sombra, vivia ali sempre em seu constante “mundo mental” e recluso da sociedade por ele mesmo e pela própria sociedade, nem as crianças com ele falavam. Certo dia ele aparece com uma chave de carro, provavelmente o carro em que se usava essa chave já tenha até deixado de existir, e de repente ele fugiu daquela rotina solitária e começou a andar de uma lado pro outro, e conversava com as pessoas e rodava essa chave no dedo, e falava com as crianças que retribuíam as falações e até se aproximavam, para pergunta-lhe sobre aquela chave.
E o outro caso é o de um rapaz que sempre está na esquina, e que segundo ele está orientando o transito, na verdade parece até ser irmão do outro. Este não muito diferente, também muito introspectivo, vive a conversar com seres que não consigo ver. Aparece de repente com uma jaqueta que tinha escrito o nome "polícia civil", e um pedaço de pau que figurativamente lembrava bastante uma arma. Esse também de repente começa a se sentir potência e a falar com todo mundo embora os adultos o esnobe, e as crianças corram de medo.
Isso me provocou uma grande confusão de idéias e ao mesmo tempo pude refletir sobre a magnitude das construções sociais, fazendo até com que pessoas que tenham algumas disfunções mentais, também se sintam potência, ostentem psicologicamente terem algo e que por ter isso e ser aquilo, se possa deixar aquele mundo vazio e solitário, e passe a ser percebido, e/ou temido pelos outros seres. Ai consegui ter a real noção da complexidade dos homens e suas instituições, e a total vulnerabilidade humana, diante das suas próprias convenções. E você? Acha que pode escolher algo somente seu? Que não seja mais uma construção humana imposta, e refletida consciente ou inconscientemente?

Gilmar Sullevan

Tópicos para formação do entendimento de alguém

- Compreensão: talvez este seja o ponto crucial em qualquer situação que transcenda o espaço individual, que permeie as relações interpesso...