quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Estava

Estava pensando em te dizer tudo
Mas sinceramente preferi omitir essa verdade inquietante
Normalmente finjo estar tudo bem, quando não está
Mas até então, só o seu perfume já me servia de anestesia
Na verdade não sinto mais cheiro de nada: estou com falta de ar!
Me diga de quanto em quanto tempo tenho tempo pra dizer algo
E quando tenho tempo me omito, me nego, me submeto a negação das minhas
verdades.
Em um desses inquietantes momentos depressivos da vida me deparo com ela
A tão importante e esperada, sabedoria do erro de saber demais.

[Gilmar Sullevan]

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A idéia do “Objeto Perdido”. E a imperfeição humana no mundo da arte.



Este tema é bastante amplo, antigo e discutido em vários ângulos. Então trago como objetivo neste pequeno texto fazer uma síntese dessa visão artística abordada pelo Rogério Skylab (músico e poeta), Oscar Wilde (escritor) e o Nietzsche (filósofo), mesmo sendo de épocas e visões distintas, podemos identificar algo em comum nos fragmentos do discurso desses caras. Esse termo “objeto perdido” extrai da entrevista com o Rogério no programa do Jô Soares, por sua vez, é um elemento que está dentro da arte e acreditamos que seja uma força essencial na sua produção de diversas formas. Qual o sentido da arte para esses autores? Que baseando nesse elemento em comum se conectam.

De acordo com o Nietzsche, seria a forma subjetiva de escape da imperfeição do mundo real transmitida pelo indivíduo em sua arte. Em seu livro “Humano demasiado humano” critica os socialistas e os idealizadores do “mundo perfeito” (Niilistas passivos), se a criação de um mundo perfeito fosse possível do modo de projeção desses pensadores, seria a morte da arte em sua essência. A arte funciona como suporte de complemento dos nossos sentimentos, não bastando os mesmos, más com um propósito de se chegar ao inalcançável pelo indivíduo no real, transmitindo essa busca pela sua criação artística ultrapassando a fronteira da imperfeição para algo além.

No Oscar Wilde em seu livro o “Retrato de Dorian Gray” possui trechos interessantíssimos, um dos quais, a excelente atriz do romance, ao perceber que amava o Dorian (Protagonista) e que o possuía como um elemento de busca, desejo e se casaria com ele, passou adiante representar de maneira péssima suas peças dais quais se destacava em romances, pois o motivo central seria a posse do “Objeto” no real que a desestimulava na sua representação no teatro, com o romance concreto não havia mais sentido em construir algo fantástico em sua profissão.

O próprio título do livro nos diz algo a respeito, através do Pintor desse retrato “Basil Hallward” tinha uma grande paixão platônica pelo Dorian que o estimulou a construir um quadro que na visão do personagem era perfeito e magnífico, conseqüentemente a construção de outros quadros excelentes. Concluindo essa tese, o personagem filósofo “Lord Henry Wotton” cita que o poeta que vive o mundo real poeticamente, ou seja, no consumo do que poderia projetar na sua poesia, acaba sendo um péssimo poeta, o inverso nesse caso é aquele que vive em impossíveis desejos não concretos, os projetando em uma rica poesia por sua vez.

O Rogério Skylab é uma figura complexa, inteligente e louca (no melhor sentido da palavra) dentro dessa perspectiva abordada na sua música e poesia, explora essa noção numa estética lingüística “não convencional” da qual podemos navegar mais livremente em sua composição. Se pegarmos como exemplo a música “dedo, língua, cú e boceta” da qual ele usa um jogo de palavras sexualmente falando, o instrumento fálico que se ausenta nessa situação pode provocar uma idéia lésbica na letra, então a relação de ausência do pênis nesse contexto resignifica a situação do sentido. No caso do Skylab, o objeto perdido possui uma relação de jogos de sentidos que dividem fronteiras na interpretação, podendo ser explorado em vários extremos diferentes, tornando-se uma incógnita, às vezes para o próprio artista e quem o interpreta. Assim, explorando um campo onde a linguagem da música passeia sobre as diversas possibilidades de sentidos, até mesmo na ausência do próprio sentido.

Na musica “corpo e membro sem cabeça” ele fala de partes corporais que foram perdidas pelos indivíduos que nas situações da letra, seja por simples perda, por repulsa, assim desejando algo impossível que necessariamente se relacione com as partes perdidas, fazendo mesmo sem o membro, a tentativa de concretização da ação desejada improvisando com sua ausência, como: “[...] As fotos do fotografo cego, o canto da cantora muda, o peru do travesti operado, a dança da paralítica, o discurso do homem gago...”

Dentre outras músicas que chamam atenção para a diversidade de relações com esses objetos, que podem ser não só o corpo, mas qualquer matéria ou símbolos de um contexto relacionado ao artista, Skylab passa na sua música, situações em que o “objeto perdido” é buscado através de uma perturbação pela ausência, puxando a descarga poética conseqüentemente, sendo infinitas possibilidades de construção subjetiva do artista em relação ao objeto, contanto que o transmita no concreto artístico.

Indivíduo <--> Arte <--> Objeto

O elemento perdido não é a totalidade nem o fim, mas o princípio ao tentar construir parte das poesias, músicas e etc. A relação do individuo e sua subjetividade transmitida através da arte com esse propósito do qual sua inquietude com o “objeto” seja transfigurada para o mundo da criação do impossível, completando o objetivo da sua relação com um universo não explorado. A arte para o observador é muito abrangente de significados, mas partindo do objeto e sua relação com o artista (ou personagem da obra), percebi com mais proximidade essa relação desde que seja possível identificar a existência desse objeto.

Alguém pelo menos um instante, ao criar ou usufruir uma arte, tem a sensação de ultrapassar o concreto, atinge não só o que conhece, mas também um universo do qual não era explorado, o que interessa é chegar àquilo que sempre quis, sabendo o que é, ou não, desde que se sinta perfeito, mesmo imperfeito, completo, mesmo incompleto para o fim de preencher o vazio do “Objeto perdido!”

[MIGUEL ANGELO]

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- Compreensão: talvez este seja o ponto crucial em qualquer situação que transcenda o espaço individual, que permeie as relações interpesso...