quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Espaço e tempo

Ando pelas ruas e praças
tudo é muito novo, reconfigurado
Os olhares estranhos me observam
retribuo, pois, não os conheço
Poderia achar muitos amigos de bobeira
Agora, eles estão em outros lugares
fragmentados e distantes
O espaço do aqui que víamos com afeição,
Agora nos tornaram alienígenas.
Minha geração passou,
Outras crianças e jovens reconstroem uma nova época
Minha casa agora é uma Clínica
As Avenida com as arvores velhas da minha infancia não existem mais
A pedra moderna reconfigura novas imagens
Matando os velhos, talvez ainda novos
O novo não espera, assim espanca e arrebenta
O que antes memorava uma paisagem, um pensamento, uma felicidade.
O tempo muda o espaço,
Recria significados , fere muitas almas
O que nos prendiam, roubaram
Transito nesse véiculo de mudanças
Busco me readapatar, Lembro o que tinha,
Quero o novo, não posso ter
Não sou nenhum, ao mesmo tempo sou todos em transformação.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ó Dezembro que aproxima-nos do ciclo de um ano, do festejo do calendário, das promessas, das metas ,do compromisso .

No Hemisfério Sul, o calor tropical é capaz de incendiar, mas, ainda não gera energia em suas células, apenas queima as peles mais velhas, o verde das folhas que não pára de transpirar ; a fonte límpida em moléculas.

As tradições se disseminaram em microespaços, em períodos curtos onde a arte se faz presente, como também os reencontros, os jogos, a dinâmica pós-moderna nordestina, na pequenina e jovem mulher .

Em meu coração ainda pulsa raízes que vêm de tão longe, ramificadas em cores, na multi-étnica dos tons da espécie, longíqua nas visões e caminhos, nos limites geográficos espaços e rios, na rede, no hipertexto, na informação-mundo via satélites.

Agradeço ao criador do movimento, infinito inexplicável que nunca nem tão cedo será alçado nas explicações humanas. . .

Peço ao futuro em festa , na comemoração anual, que fecha seu ciclo total, sagrado e profano calendário .

Dezembro, 2009. Nauta, in: Viajens. Livraria Digital.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Feira

-Olha a macaxeira, batata e inhame!

-Aqui! Aqui! DVDs baratinhos!
Danielzinho e Forrozão quarto de Milha,
Lady Gaga, Asas Morenas e Metallica!
2 reais cada!

-Remédio milagroso, 3 reais
Cura tudo! passe 4 vezes por dia
e adeus dor na junta, osteoporose, dor nas costas,
bico de papagaio, tuberculose e tudo mais!

-Ei moço! Ei moço! Me dá um real!

-Arreios de couro aqui, tudo que você precisar em couro!

- Candieiro, pote e e fogão em Barro!

Liquidação! Camisa da Nike, 80 real. Tênis Adidas, 150 real!

-Moça, quer um frete?
Sim menino, até o outro lado da cidade te dou 3 reais
-Tá certo

-Promoção! Promoção!
Tudo em aparelhagem eletronica!
Aparelho de DVD, Video Game, Celular e Iphone

-Olhe a maçã, laranja, pêra e Jaboticaba!

-Rifa-se uma moto, 1 real o bilhete!

-Dá uma esmolinha pelo amor de Deus!

Enquanto esse cruzamento de realidades soam no território da feira, nas barracas de rocha divulgam:

- Notebook da Apple, Dell e Positivo.
Tudo em 10 vezes sem Juros aqui no Gbarbosa,
nossos funcionarios irão te atender, é só chegar!

-Promoção! leite em pó de 500 Mg e manteiga 150 Mg da Natville, por apenas 7 reais.

-Cama, sofá e Guarda-roupa, monte sua casa por um preço pequinininho! Aqui na movelaria Glória.

Um encontro:

-Olá comadre, tudo bem? como anda a família?
-Tudo certo. E no seu sítio, como tá? choveu por lá esses dias?
-Não, mas com fé em Deus e São Pedro, vai dar um bom feijão nesse ano!
-Vamo andando Mazé, que o caminhão vai sair daqui a pouco,
antes de voltar pra roça vou passar no ali na "Norma" pra comprar o tamanco na promoção de 200 real!
Semana passada comprei um Nokia N97 de 8 GB pra minha fia, guarda foto que é uma beleza, só compro coisa boa!
...

-Olhe a maçã, laranja, pera e jaboticaba!

-Carne de boi, frango e peixe!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Brasil

Recenseador:

-Quantas pessoas moram na casa?

Mulher:

-9 pessoas moço. Eu, meu marido e meus sete filhos.

Recenseador:

Sabe ler e escrever?

-Não moço. Ninguém aqui sabe.

O marido consertando um motor velho resmunga:

-Porra de saber ler. Nunca vi isso trazer futuro pra ninguém, tsc!

Recenseador:

-Qual a renda da família?

Mulher:

-Nenhuma, vivemos de ajuda!

Ela olha para o rapaz com a esperança mais profunda de uma alma cristã à busca da salvação. O jovem rapaz responde com palavras mudas. Nada podia fazer a não ser fazer-lhe perguntas friamente. Não pode sorrir, não pode chorar, não tinha nem um real no bolso, apenas sentir a miséria e preencher as questões. Ele se questiona com o que poderia fazer por essas pessoas. Não existe bolsa família nessa situação!

O humilde funcionário gostaria de obter alguma resposta, de preferência, daqueles que adoram salvar o mundo!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Antropofágico do Eu

Mostra-me tua verdadeira face

Tão diferente desse seu teatro no rosto,

Assim como aparecem essas tuas unhas sujas.

Faz o coração bater como na fotografia...

Não vá pra perto da cidade!

Ficar perto pode ser estar preso num labirinto.

Sujo, faminto, embriagado de dor.

Morfologicamente metarmafoseando-me...

De ser forte, torna-me-a um ser de osso e pele

Antropofágico do eu.

Chuvas de granizo ferem-me a pele e os ossos que me restam.

Mais a dor, abstrata, torna-me cada vez mais pensante.

Vejo luzes de fugacidade, elefantes e outros animais,

De pelúcia, pano ou espuma que reluzem aos meus olhos.

Distante do lar, distante dali e de lá,

Mais próximo de mim...

[Gilmar Sullevan]

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pulsão de morte

O que é um pensamento?

Não trago dados do IBGE,

Não uso o materialismo histórico

Não sou evolucionista,

Talvez um outro “...ista”

Poderia falar da China e a destruição do meio ambiente

Das Coréias no Ringue,

Os EUA dizem querer paz. Paz?

Olhe o brasileiro!

A pimenta Gota nos olhos da gente

O desemprego aqui, o caos no Rio Janeiro

Os traficantes enfrentam a polícia

Na África está a fome e a peste,

No México alguma milícia

Hu Jintal, Obama e o Papa são “os maiorais”

A barbárie bate na porta do mundo

O “Chapolim colorado” não nos defende mais

Pois, “os olhos e ouvidos” fazem parte da boca

O cérebro é o intestino grosso

E os lindos lábios, um ânus

O pensamento é uma digestão do mundo,

Juntos com esse mesmo mundo,

Saímos por esses mesmos lábios com batom e mel

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Vermelho-Sangue

As mesmas. E aquelas... Continuam iguais. Lá tem(latem) tudo, ou melhor, perdeu tudo quando me aborreci e saí. Mas trago comigo algo único! Mais que já perdeu o sentido. Mais é a única coisa, que me resta, e a única coisa que desde novo carrego comigo, que é essa camisa... Que já é velha, assim como eu! Mais essa camisa é como a casa do caracol, sempre a carrego comigo, eu carrego essa camisa. E sempre a levo, sempre levo de novo, é sempre mais do mesmo, é sempre nada, mais é a minha camisa.

Desisto! Não quero saber! Se viver sorrindo é andar sobre os trilhos da própria história, tão ignorante por sinal.

Peço desculpas, pois o que sei fazer é refazer...

Mais essa camisa é de linho nobre, se não me engano é pura seda. E ela é tão nova e tão velha.

Tão colorida que me ofusca os olhos e a todos que a encaram! Mangas compridas, detalhes vermelho-sangue, e não tem nenhum rasgão, nem um único fiozinho desfiado. Faço tudo com essa camisa, e as meninas gostam, elas riem, imploram pra tocar a camisa, o problema é que no final elas sempre choram!

Sempre carrego essa camisa comigo, é como se eu me transformasse quando a visto, e ele é tão vermelha e tão bela, tão singela, tão triste.

Trago este cigarro amargo pra pensar nesta camisa, vermelho-sangue, claro sempre levo meus braços, unhas e dentes, para defenderem está velha camisa, que trago sempre comigo.

Na verdade essa blusa era de outra cor, mais não me lembro que cor era, nem se era uma cor... O importante é que é vermelha com tonicidade de sangue, é sangue! São minhas vítimas, é sangue meu, é em mim que sangra, é o meu vermelho-sangue de sangue.

É sangue que jorra como chafariz em praça pública, é minha lágrima ensaguentada, é o meu existir, por isso carrego sempre essa blusa vermelha comigo, é com ela que enxugo minhas lágrimas, é com ela que carrego outros sofreres, é com ela que me aqueço, é com ela que choro, que rio, me afogo, mais é sempre com ela que me embriago, que me entrego, que me nego, e assim como os bêbados defendem o “sagrado” direito de se embriagar, também tenho o direito de chorar, sonhar e sofrer com minha camisa vermelho-sangue as lamentações do existir.


[Gilmar Sullevan]

Tributo "...aos mortos da ilha da ilusão, durante a última revolução dos corações e das paixões..."

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Contrário

Em uma terça nublada de outubro, Davi volta da escola para sua casa. Cansado, ele almoça com sua mãe. Ela estava preocupada com o marido alcoólatra que estava muito doente e prestes a perder o emprego, pois, o chefe da repartição pública havia ameaçado de despedi-lo caso ele não largasse o vício. Há poucos dias havia terminado o contrato do Davi com uma empresa de comunicações e ele estava à procura de um trabalho que desse para segurar a barra. A mãe do Adolescente preocupada com sua feição pergunta:

-Você está com algum problema meu filho?

-Sim mãe, eu não estou muito bem no colégio, quero me concentrar nos estudos como deveria e conseguir um emprego que dê para segurar os problemas financeiros de casa. Esses problemas e mais um pouco andam tirando a minha atenção das coisas que estão ao meu alcance.

-Está certo meu filho, espero muito que você consiga.

Depois de tomar seu banho, o rapaz passa alguns minutos em frente ao computador. Abre o email e pergunta ao seu amigo Rafael o que ele estava fazendo naquele instante, o mesmo não responde. Então, Davi decide abrir sua gramática e durante a segunda pagina de análise sintática um sono cai instantaneamente sobre ele. Resolve dormir alguns minutos, são 3 da tarde. O sono e o medo simultâneos não deixam ele conseguir dormir nem levantar-se para continuar seus afazeres, o café não resolveu o problema. Exatamente às 16hs ele dorme profundamente e poucos minutos depois, acorda em um lugar estranho:

-Que lugar é esse? Porque eu vim parar aqui?

Seu amigo Rafael aparece e lhe responde a pergunta

-Te achei próximo à escola, você estava andando de pijama com sua guitarra nas costas. Te trouxe até aqui para descansar um tempo, não sei como conseguiu andar dormindo da sua casa para cá, mas está tudo bem, você pode pegar uma roupa minha emprestada caso queira.

Davi confuso e sonolento levanta-se e observa que a casa estava cheia de visitas. Avista na sala, um amigo do antigo colégio onde estudava, o amigo se chama Alex, que tinha lhe ensinado os primeiros acordes, estava também Lucia, ex-namorada do Rafael e alguns colegas de sua sala. Eles passavam alguns dias por lá. Após Davi falar com todo o pessoal, distraiu-se um tempinho tocando algumas musicas com o Alex, já que não o tinha visto há tanto tempo.

Três pessoas saíram da casa por alguns instantes, Alex, o Rafael e a Lucia saíram minutos antes. Davi não havia percebido a saída, pois estava concentrado no novo equipamento que o amigo tinha mostrado. Então olha para o seu relógio e são exatamente 17h, o apetite já soara em seu estômago.

Dani, colega de sala do Rafael havia preparado um banquete, Davi não sabia nem por onde começar. Após o término da refeição ele encontra o Rafael em frente a casa com Lucia.

- Jantou Davi?

- Sim Lucia, aproveite enquanto está quente na mesa. Dani é fantástica, prepara pratos deliciosos mesmo.

- Está certo, vou lá conferir então.

Lucia sorri e entra. Rafael convida Davi para ir a venda que ficava algumas quadras dali, para comprar alguns alimentos e materiais de limpeza. Já que ele estava com visitas, teria que repor os utensílios necessários. Davi olha para o relógio e percebe que já são quase 18 horas. Enquanto isso, Rafael fala durante o caminho.

-Velho, fiz uma loucura quando saí com a Lucia. Transei com ela na escada do prédio em construção da escola. Jurei que não ficaria mais com ela, mas acabou acontecendo. Está tudo bem, não vai ocorrer nenhum problema por causa disso.

-Pois é meu caro amigo, nem tudo acontece da forma que planejamos.

Enquanto isso, eles andam por uma rua meio calçada com muita terra, existe um fábrica de móveis. Em poucos instantes, essa fábrica lança uma água sobre a rua deixando-a encharcada de lama, obrigando os dois garotos a andarem pela calçada. Através do portão aberto, eles enxergam vários funcionários lavando o galpão. Davi sente um incômodo após a água ter molhado seus pés. Olhando para o relógio, vê que são exatamente 18h e 30. É noite, de repente viu tudo escurecer. Assim, o garoto encontra-se na cama, enxergando uma luz fraca vinda da sala através da porta do seu quarto escuro. Levanta-se ainda um pouco embriagado do sono e pensa o que teria acontecido possivelmente nas ultimas horas.

-Merda! Foi um sonho? Como posso ter certeza que é o meu quarto realmente? Dormir pelo dia e acordar à noite não é nada comum.

Indo ao computador, Davi lê o Email respondido pelo Rafael, enviado às 18h e 30:

-Amigo, dormi durante à tarde. Acabei de me levantar e li a sua mensagem agora.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Euforia

Corro, paro, volto, vou,

Pra dentro, pra fora, de um lado pro outro,

Rápido, devagar, quase lesma!

Pra cima, pra baixo, no meio, na ponta,

De carro, de “bike”, a pé, a cavalo...

No ar, no vácuo,

No céu, no mar, na terra,

Na serra, na montanha, na gruta,

Em casa, no trabalho, na rua,

No sol, na lua, em marte...

Na mochila, no tênis, na reta,

A seta, a meta, a bola,

Que horas?

O bonde, a ronda, a onda,

O tiro, a pedra, a areia,

A escola, a sala, a mala,

O nascer, a vida,

A MORTE.


[Gilmar Sullevan]

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cópia

O homem não consegue viver sem as suas lacunas de respostas,

E por isso cria-se o divino herói, que de tudo sabe e que tudo pode.

Ao mesmo tempo em que emigram num imenso mar de cópias.

Seus exemplos de vida baseados na admiração, ilusão.

Deixa de transcender, para ascender uma figura endeusada.

Engessa-se, mumifica-se psicologicamente, invariavelmente.

Numa tentativa frustrada de tentar ser o objeto refletor.

Coloca-se a disposição inteira e completa do outro,

Negando-se a liberdade, e condicionando-se a outro.

Ser livre é quase um acaso, mais que por acaso sou!

É aprender e conhecer os mais variados variáveis,

E moldar-se como “cópia” autêntica.

Sei que há casos que cópia é tudo que nos resta,

Mais se resta, sempre haverá um rosto moldado de restos novos,

E as interrogações me possibilitarão esse novo molde.

Não nascemos programados para sermos uni-copia,

Podemos ser um caso não por acaso.

Deixar escorrer por entre os dedos o sangue suado de poder ser,

Para deixa ser guiado por uma coleira, talhada em bronze

E ser puxado por um ser abstrato, que depende de mim para ser

Caso fosse, o que não é mesmo eu existindo.


[Gilmar Sullevan]

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os sonhos parecem com as imagens da existência, os caminhos, a mente do cineasta, as relações de troca entre os humanos, medos e desejos, angústias, interesses materiais, perspectivas , o amor, o afeto . . .
Nunca houve , ou se houve , um sonho muito abstrato. . . deve ter sido na ausência de quaisquer uma dessas coisas acima citadas ou na permanência da própria mecânica , do movimento; do qual os humanos estão sob o efeito .
Sonhar com o céu, o mar, o Luar, um jardim, a chuva, a Fé, tornariam as coisas mais belas, aliás, tiraria o ser da esfera efêmera e colocaria os fatos no infinito, no ciclo ininterrupto da essência natural, intimamente.

( Nauta. Cadernos 2009 )
A partir do momento que deixo de ser eu
Passo ao estado de Poeta
Aquele que sente
Aquele que não quer pensar
O que vê
E nas encostas e nos morros
Pelas ruas da cidade
Vou observando
Vivendo por entre imagens
Até os céus se fazem imagens
Por entre sonhos posso até caminhar
Mas a realização
Só com o trabalho virá
Prefiro seguir em remotas plagas
Tão remotas que nem me encontro
Continuo em minha espaçonave
Flutuo em imaginação
Imagem
Ação !!
E mesmo que não faça tudo o que quero
Nem possa tudo aquilo que sonho
Procuro sempre estar no possível
Pois não me iludo com o improvável
Vou devagar
Pois o tempo
É o caminho
Por onde ando
Vôo
Passo
Sigo
Conhecendo
A mim mesmo
Para Poder
Encarar o Próximo
Como me vêm
Aos olhos

( Nauta. Cadernos. 2009 )

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vocês

A face é tão móvel e tão falsa.

Falar e sorrir pode-se fingir ser verdadeiro,

Quando somente se é encenação.

Negar, aceitar, fingir, ação, reação!

De tão belas as faces em movimento,

De tão tola a percepção.

Brincar, cair, chorar, ação imediata, inconsciente?

Pensar, ser atriz, falsear de forma quase imperceptível.

E construir ao mesmo tempo em que se destrói o invento.

Enquanto isso... Esvaem-se no ar minhas paixões!

Impossível ver, tocar, sentir o vermelho fosco, tosco!

Que borbulha em um caldeirão de idéias caducas, malucas?

Logo, pensar, armar, chorar, matar, falar, pode-se ser meus eus!

Mais ai penso, armo, choro, mato, “falo”, e finjo...

Não sou meus eus, pois são seus eus, que fazem sentir-me assim.

[Gilmar Sullevan]

domingo, 24 de outubro de 2010

Forças

Morri? Que cansaço é esse?

Membros e pensamentos não respondem

Desejo, olho... Isto é água?

Estou totalmente consumido

Busco comer a vida, mas ela parece me repulsar

Tapando com sua mão a minha boca faminta

Perco as forças e a resposta do corpo

Quero seguir! Recuso-me a parar!

Não quero te dizer adeus!

Quero te ver todos os dias

Cheirar as flores que brotam no jardim e no esgoto

Quero me deliciar dos momentos de prazer e desprazer

Porém, parece óbvio a imprevisibilidade previsível

Que não tem mais graça rir e sofrer, depressão? Não

Alguma doença psicogênica? Talvez

Mas assim que te ver... Abraçarei e darei mais um bom dia

Andarei com essas pernas arrancadas

Mesmo que rasteje sem estimulo

Recuso-me a parar!

Quando olhar para trás, perceberá o quanto cresci

Não quero morrer nas desilusões

Apenas passar as estações e não mudar o que já fiz.

Quero mesmo viver o eterno círculo do existir.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um pouco chegando terra a dentro
Me conduz, nau do pensamento
que antes estivera, tortura (?)
ou aquartelamento
Entre montes, caatinga, pedroso
Se ergue
Cruzes, arcabuzes, sol-trópico
ferve o sangue, o conjunto
da união de uma tribo
Qual teria sido a origem
Que origem ? Terra de ninguém
Subir ao sábado
melhor ao Domingo
depois da praia
A pé
Espera de pensamento
Sempre criando
Sou poeta

Não me engano
A coração
Agora é
Amor à minha terra
Caminhar pelas mangabas
Aos cavalos
Fortes
Tão fortes
Atracadouros
que mais parecem
Pontes
Mãos D'agua
Mercado
Cidade que ergue
e tudo vai mudando
Armas, Drogas
Educação
Em misérias
Trabalho
só em trabalhar
Reescrever
Viajando
na miséria
cognitiva
mental

Fui índio, em cima da cruz
Percorrendo o horizonte em busca de Colônia
Acampamentos e acampamentos, assentados
onde esteve a mata atlântica, no alto
Fui no Poxim, de barco
Tainhas, Cigarro
O Folclore estava lá, entre mangues
Sangue, da minha terra
Desconheço seu início, nem
Nem muito menos
tampouco
seu fim !

Nauta. Cadernos 2009
A noite acalma
Atravessada de chuva
respinga toda a rua
e os meus pés
molhados
feridentos
me levam
me trazem
no trem
de Bike

A Noite acalma
de Inverno
Visto os meus olhos
Primavero
Acordo meio Filósofo
E caio
Em sono Profundo
Acordado
Novo
um garotão
E ainda passam vozes
ainda passam passos
Surtos de velozes
como quero
O doce na boca nova
cheia de dentes
Espero
Os ônibus passam
Ainda é cedo
Estio intermitente
Seca de gente
Sem precedentes
Sob a luz das pontes
Travessias e rios
que levam escuridão
e Peixes
desejos também
Saudade do Morro
nos tons de Verão
O espaço
Até onde a vista enxerga
Estou sentado
atrás do portão

Espero
Fumaço
Fecho os olhos
Durmo

( Nauta, Cadernos: 02/08/2010. )
Para O Camarada


Na Boca de pés descalços Com um par de chinelos
E agora sem um deles
É osso, e morar no interior
Se é do Ceará, Agora tá
Em Lagarto, e falava
do rolo de fumo
De um Real
E toma Limãozinho
E toca Violão
Agora, procura a chinela
E cadê, Seu Pé
A chinela
Procuraê
Só sei que não fui eu
E achou o que tinha esquecido
Seu Pé dormiu
Mas achou o seu chinelo
No meio da Galera


( Nauta, Cadernos: 20 outubro, 2010 )

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eu e o Verbo

Vou, volto, busco, acho

Perco, retorno, sigo, nado

Reencontro, fumo, cego, acabo

Caminho, chego, finalizo, começo

Penso, quero, corro, jogo

Roubaram, rasgo, desencanto, odeio

Tenho, abstenho, nego, afirmo

Repito, conserto, amo, termino

Circulo, circulo, quero, querer

Falo, mudo, vejo, viver

[Miguel]

Poético



Se se pode ser gente, e tão demente contente
Como uma flor que desabrocha e morre no deserto,
Sem sentir a dor que é nascer e morrer de repente.
Assim o homem sorri quando é engolido por seus irmãos.
Finge não sentir dor, para ostentar ser forte.
No momento da morte chorarei, pois, não posso ser Teseu.
Ser forte é somente fingimento poético, quem sabe até estético.
Rir, chorar, apaixonar, prazer em sofrer é amor de tolos
Prefiro o sangue escorrendo na pia,
E comer um lindo e farto banquete de vísceras humanas,
Afinal nos banqueteamos de nós mesmos todos os dias!
Sentir a dor da faca abrindo minha barriga e eu mesmo tentado me costurar,
Sentir o medo através do reflexo dos olhos alheios.
Pois comerei do teu corpo, e me embriagarei no teu vinho,
Só pra te provar que todo o poder, resplandece sobre mim.

[Gilmar Sullevan]

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Os homens e os seus podres “poderes”

É interessante se observar como se é criado na cabeça humana, a sensação de poder e de bem estar social através dos bens, que tenhamos, e de respeito e/ou medo pelos títulos que conseguimos obter durante nossa vida. Vou contar uma observação que fiz sobre duas pessoas que tem problemas mentais e que sempre andavam por perto de onde eu moro, e da sacada de casa eu os observei por alguns dias.
Um deles só vive rindo e sempre estava sentado em alguma calçada que tivesse sombra, vivia ali sempre em seu constante “mundo mental” e recluso da sociedade por ele mesmo e pela própria sociedade, nem as crianças com ele falavam. Certo dia ele aparece com uma chave de carro, provavelmente o carro em que se usava essa chave já tenha até deixado de existir, e de repente ele fugiu daquela rotina solitária e começou a andar de uma lado pro outro, e conversava com as pessoas e rodava essa chave no dedo, e falava com as crianças que retribuíam as falações e até se aproximavam, para pergunta-lhe sobre aquela chave.
E o outro caso é o de um rapaz que sempre está na esquina, e que segundo ele está orientando o transito, na verdade parece até ser irmão do outro. Este não muito diferente, também muito introspectivo, vive a conversar com seres que não consigo ver. Aparece de repente com uma jaqueta que tinha escrito o nome "polícia civil", e um pedaço de pau que figurativamente lembrava bastante uma arma. Esse também de repente começa a se sentir potência e a falar com todo mundo embora os adultos o esnobe, e as crianças corram de medo.
Isso me provocou uma grande confusão de idéias e ao mesmo tempo pude refletir sobre a magnitude das construções sociais, fazendo até com que pessoas que tenham algumas disfunções mentais, também se sintam potência, ostentem psicologicamente terem algo e que por ter isso e ser aquilo, se possa deixar aquele mundo vazio e solitário, e passe a ser percebido, e/ou temido pelos outros seres. Ai consegui ter a real noção da complexidade dos homens e suas instituições, e a total vulnerabilidade humana, diante das suas próprias convenções. E você? Acha que pode escolher algo somente seu? Que não seja mais uma construção humana imposta, e refletida consciente ou inconscientemente?

Gilmar Sullevan

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Estava

Estava pensando em te dizer tudo
Mas sinceramente preferi omitir essa verdade inquietante
Normalmente finjo estar tudo bem, quando não está
Mas até então, só o seu perfume já me servia de anestesia
Na verdade não sinto mais cheiro de nada: estou com falta de ar!
Me diga de quanto em quanto tempo tenho tempo pra dizer algo
E quando tenho tempo me omito, me nego, me submeto a negação das minhas
verdades.
Em um desses inquietantes momentos depressivos da vida me deparo com ela
A tão importante e esperada, sabedoria do erro de saber demais.

[Gilmar Sullevan]

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A idéia do “Objeto Perdido”. E a imperfeição humana no mundo da arte.



Este tema é bastante amplo, antigo e discutido em vários ângulos. Então trago como objetivo neste pequeno texto fazer uma síntese dessa visão artística abordada pelo Rogério Skylab (músico e poeta), Oscar Wilde (escritor) e o Nietzsche (filósofo), mesmo sendo de épocas e visões distintas, podemos identificar algo em comum nos fragmentos do discurso desses caras. Esse termo “objeto perdido” extrai da entrevista com o Rogério no programa do Jô Soares, por sua vez, é um elemento que está dentro da arte e acreditamos que seja uma força essencial na sua produção de diversas formas. Qual o sentido da arte para esses autores? Que baseando nesse elemento em comum se conectam.

De acordo com o Nietzsche, seria a forma subjetiva de escape da imperfeição do mundo real transmitida pelo indivíduo em sua arte. Em seu livro “Humano demasiado humano” critica os socialistas e os idealizadores do “mundo perfeito” (Niilistas passivos), se a criação de um mundo perfeito fosse possível do modo de projeção desses pensadores, seria a morte da arte em sua essência. A arte funciona como suporte de complemento dos nossos sentimentos, não bastando os mesmos, más com um propósito de se chegar ao inalcançável pelo indivíduo no real, transmitindo essa busca pela sua criação artística ultrapassando a fronteira da imperfeição para algo além.

No Oscar Wilde em seu livro o “Retrato de Dorian Gray” possui trechos interessantíssimos, um dos quais, a excelente atriz do romance, ao perceber que amava o Dorian (Protagonista) e que o possuía como um elemento de busca, desejo e se casaria com ele, passou adiante representar de maneira péssima suas peças dais quais se destacava em romances, pois o motivo central seria a posse do “Objeto” no real que a desestimulava na sua representação no teatro, com o romance concreto não havia mais sentido em construir algo fantástico em sua profissão.

O próprio título do livro nos diz algo a respeito, através do Pintor desse retrato “Basil Hallward” tinha uma grande paixão platônica pelo Dorian que o estimulou a construir um quadro que na visão do personagem era perfeito e magnífico, conseqüentemente a construção de outros quadros excelentes. Concluindo essa tese, o personagem filósofo “Lord Henry Wotton” cita que o poeta que vive o mundo real poeticamente, ou seja, no consumo do que poderia projetar na sua poesia, acaba sendo um péssimo poeta, o inverso nesse caso é aquele que vive em impossíveis desejos não concretos, os projetando em uma rica poesia por sua vez.

O Rogério Skylab é uma figura complexa, inteligente e louca (no melhor sentido da palavra) dentro dessa perspectiva abordada na sua música e poesia, explora essa noção numa estética lingüística “não convencional” da qual podemos navegar mais livremente em sua composição. Se pegarmos como exemplo a música “dedo, língua, cú e boceta” da qual ele usa um jogo de palavras sexualmente falando, o instrumento fálico que se ausenta nessa situação pode provocar uma idéia lésbica na letra, então a relação de ausência do pênis nesse contexto resignifica a situação do sentido. No caso do Skylab, o objeto perdido possui uma relação de jogos de sentidos que dividem fronteiras na interpretação, podendo ser explorado em vários extremos diferentes, tornando-se uma incógnita, às vezes para o próprio artista e quem o interpreta. Assim, explorando um campo onde a linguagem da música passeia sobre as diversas possibilidades de sentidos, até mesmo na ausência do próprio sentido.

Na musica “corpo e membro sem cabeça” ele fala de partes corporais que foram perdidas pelos indivíduos que nas situações da letra, seja por simples perda, por repulsa, assim desejando algo impossível que necessariamente se relacione com as partes perdidas, fazendo mesmo sem o membro, a tentativa de concretização da ação desejada improvisando com sua ausência, como: “[...] As fotos do fotografo cego, o canto da cantora muda, o peru do travesti operado, a dança da paralítica, o discurso do homem gago...”

Dentre outras músicas que chamam atenção para a diversidade de relações com esses objetos, que podem ser não só o corpo, mas qualquer matéria ou símbolos de um contexto relacionado ao artista, Skylab passa na sua música, situações em que o “objeto perdido” é buscado através de uma perturbação pela ausência, puxando a descarga poética conseqüentemente, sendo infinitas possibilidades de construção subjetiva do artista em relação ao objeto, contanto que o transmita no concreto artístico.

Indivíduo <--> Arte <--> Objeto

O elemento perdido não é a totalidade nem o fim, mas o princípio ao tentar construir parte das poesias, músicas e etc. A relação do individuo e sua subjetividade transmitida através da arte com esse propósito do qual sua inquietude com o “objeto” seja transfigurada para o mundo da criação do impossível, completando o objetivo da sua relação com um universo não explorado. A arte para o observador é muito abrangente de significados, mas partindo do objeto e sua relação com o artista (ou personagem da obra), percebi com mais proximidade essa relação desde que seja possível identificar a existência desse objeto.

Alguém pelo menos um instante, ao criar ou usufruir uma arte, tem a sensação de ultrapassar o concreto, atinge não só o que conhece, mas também um universo do qual não era explorado, o que interessa é chegar àquilo que sempre quis, sabendo o que é, ou não, desde que se sinta perfeito, mesmo imperfeito, completo, mesmo incompleto para o fim de preencher o vazio do “Objeto perdido!”

[MIGUEL ANGELO]

domingo, 8 de agosto de 2010

O Crepúsculo na sexta-feira do proletariado e o inocente

Certa vez estive a procura dos documentos para o meu primeiro emprego, na minha volta para casa durante o fim da tarde naquela típica sensação de término das obrigações semanais. Deparei-me pela primeira vez com as pessoas que estavam a minha frente no ônibus. Elas tinham expressões bastante surradas, com a cara de derrota em pleno fim do ultimo dia do trabalho daquelas pessoas, funcionários do serviço de limpeza municipal, empregadas domésticas, de supermercado, trabalhadores das próprias empresas de transporte público, pessoas que fazem bico e demais trabalhadores.

As mesmas me passaram expressões bastante assustadoras, olhei para elas como se estivesse olhando num espelho do qual me destina em parte, no exato momento em que estava inocentemente eufórico atrás da minha papelada para o primeiro emprego. Me deparo com aquelas faces queimadas do sol, suadas, surradas de uma longuíssima jornada semanal. Muitos com seus filhos nas costas para alimentar com seu curto salário, outros com os filhos, a necessidade, mas sem o salário, as mulheres dormiam extremamente cansadas, um homem cabisbaixo com a farda do setor de limpeza buscava a mínima sensação de prazer no seu celular com rádio tocando asas morenas, o homem do seu lado estava com sua pequena grade de cervejas para matar pelo menos um instante aquela sensação de não-consumo da sua vida.

Todo aquele meu sonho foi reconfigurado do qual estive agarrado na certeza da independência financeira e do qual estaria entrando para uma etapa da qual estaria mais liberto e que seria uma grande conquista. Mas outras realidades caíram cruas em minha frente, consegui enxergar parte daquilo que se torna de fato. Libertamo-nos de uma prisão para entrar em outras dependências a todo instante, os problemas que acabam são apenas a gênese dos problemas posteriores. Estas impressões transformaram bruscamente o valor daqueles papéis dos quais eu segurava com tanta certeza, tornou-se algo mais duro de engolir.

É um ciclo do qual estamos a fadados a entrar queiramos ou não, mesmo cansados, ou mais explorados, alguns possuem seus filhos para educar, sua casa para administrar. Outros solitários como eu também estudam com a perspectiva de melhorar e renovar os problemas, ou seja, o nosso tempo está sempre consumido por obrigações para nos manter com valores que internalizamos e às vezes não percebemos que outras pessoas também lutam para um dia conseguir a suposta "tranquilidade."


[Miguel]

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Troféu de bosta!

É impactante como nos deparamos com certas situações difíceis e como nosso inconsciente nos envia uma reação de bengalas a certos desafios que procuramos apoio externo e nos deparamos com nós mesmos. Acabamos às vezes, esquecendo do principal personagem e que garante realmente o sustento do desafio, que ganha, perde, ou os dois ao mesmo tempo naquilo que interessa. Assim estabeleço uma relação da covardia x coragem e uma perspectiva para a vitória e a dor no caso desse personagem do texto.

Em uma situação que o indivíduo “Voltairiano” prepara-se com equipamentos supérfluos e um batalhão, mas na hora exata, cadê o batalhão? Cadê o funcionamento das armas? E começa uma luta com ele mesmo para achar a resposta. O que sobra é o corpo nu ao inimigo, com quem menos contava foi o que restou sem preparo, o corpo foi mutilado e arrasado com a derrota, então ele se entrega ao desespero e joga a culpa da sua derrota nas suas armas e companheiros, cada dia o atormenta com a derrota após derrota, tentando inovar nos equipamentos, implora aos companheiros e táticas novas para vencer a sua luta, a derrota o aflige a cada instante, o desespero está tomando conta da alma e do corpo agora sem saída.

No ultimo pulsar dos neurônios e do coração, lembra-se quem era o culpado verdadeiro da derrota, o próprio indivíduo, arranca sua roupa, amassa suas armas, e se joga na noite mais fria e mais solitária de sua alma. O perigo e a dificuldade são extremamente maiores, cada fatia do seu corpo que corta, cada queimadura, cada pedaçinho arrancado, torturam até o ultimo elétron da “energia vital”, cada gota de sangue derramado parece que arrancaram séculos de sua vida. Então, ele olha para o seu corpo esfarrapado no chão, quase em putrefação e em frente seu inimigo morto, caído, após 2 meses de batalha e desespero. Levanta sua carcaça que aos poucos se regenera, cada gota de sangue re-bombeado, pele cicatrizada.

O que era podridão se levanta vitorioso mesmo com os pedaços arrancados, por mais que o significado da luta seja inútil ou grandioso, ele olha para o seu ego e responde: “Finalmente, precisei do principal para o que é meu, a anestesia causou a minha derrota. O sofrimento e a dor persistentes agora não existem mais, meu orgulho egoísta e vitorioso agora se questiona e conclui. Mesmo esse troféu sendo de matéria fecal, é meu, a doença é minha, a luta é minha, a derrota é minha, o troco do soco é meu, e o troféu de bosta... Está no meu armário exposto ao mofo."
[Miguel]

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

E Daí?

Não aguento mais! É crise existencial, crise econômica, crise intelectual, crise imobiliária, crise moral, crise cristã. E os meus pensamentos? E os meus desejos?
O vício, as virtudes, a malicia. O olhar por debaixo do chapéu, visando às pernas do outro lado da sala de estar, fala mais do que aquela conversa que acontece ali na praça. Meu corpo já esta anestesiado de tanta vacina, tanto anticoncepcional, tantas regras! Esqueço de lembrar do homem que esta a me incomodar ali na esquina toda vez que saio de casa, quer dinheiro pra fazer uma intera pra comprar alguma “coisa”, e aquela velhinha que faz questão de me lembrar que na época dela as coisas eram de outra forma, mas e daí? O que tenho a ver com isso? Sou de outra época!
Tem ainda aquelas bombas que mataram milhões, e daí? O que importa é que estou vivo! Sim, tem umas criancinhas lindas na África que estão com fome e sede. Eita! Quase me esqueci que tenho um banquete com o presidente da Argélia. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que esqueci que marquei com uma prostituta de dezesseis anos as 7:00 horas, pois, estou sendo legal contribuindo pra sua renda familiar. Mas, e daí?



Gilmar Sullevan

sexta-feira, 30 de julho de 2010

000 - Circular vida e não-vida

Anos e anos não consumados
De uma vida no ônibus
Com percurso de destino algum
Pergunta-se aonde quer chegar

Mas não tem resposta alguma
O indivíduo olha pela janela

E ver o mundo, as casas, outros ônibus, luxo, o lixo,
Um puteiro, o bar, o dinheiro, a igreja
A escola, a família, a mulher amada,
Olha para si mesmo, o externo e viu tudo passar

O espectador do ônibus
Que entra na estrada perdida volta para o mesmo ponto
Segue em frente no buscado destino
Mas nada que tenha sentido para descer

Que não imagina onde seja
O ônibus é circular
De repente o ônibus para e ele questiona
É aqui que eu devo permanecer?

Miguel

Saco Cheio

Estou de saco cheio do academicismo
De saco cheio da pós-modernidade
De saco cheio da musica
De saco cheio do capital

De saco cheio de estar de saco cheio
De saco cheio da beleza
De saco cheio da dopagem cotidiana
De saco cheio do imoral e da moral

De saco cheio da filosofia
De saco cheio do celular e da comunicação
De saco cheio de mim e do mundo
De saco cheio da escatologia e do Platão

De saco cheio da maldade e da bondade ainda mais
De saco cheio da compaixão
De saco cheio do cimento e do excremento
De saco cheio da ciência, artes e religião
De saco cheio!

Miguel

terça-feira, 27 de julho de 2010

E só

O desespero, a dor, a morte, a vida, ser eu.
Mim despertam uma busca incessante de respostas
Mais o desespero de não conseguir nada me enlouquece
As dores mentais, corporais, estruturais escorrem como catarro/escarro nas minhas veias
A angustia de nascer, crescer, aprender e depois de tudo morrer
Viver na certeza do nada na terra, e depois ser forçado a ir pro inferno ou o céu.
Vivendo com angustias, dores, choros por saber que sem nenhuma resposta
Eu só posso ser eu! E ainda esperam de mim um sorriso estampado no rosto.
Não posso saber o futuro, não posso mudar o passado, só ser forçado a viver o presente.
Sendo animal fraco/falso, dormente/demente, que tão limitado, pensa que pensa ser gente.
Se na existência do ser, pudesse ser eu só, seria pela metade da porcentagem completo
Mais sou forçado a aprender/viver através da insana consciência alheia: moral.
Nascer, crescer, viver o já existente forçado inconscientemente pelos outros, sentir dor, medo, ser somente eu (animal), viver somente o presente, e morrer
Pra no fim de tudo ser somente o humano demasiadamente humano ridículo e limitado.


Gilmar Sullevan

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Retrato da loucura

Corto os fragmentos destinados da irracionalidade
Contam para o meu ser o que deveria ou não
Os rios refletem ilusões que me fogem da realidade
Bombardeando de mim mesmo um jargão

Quero a lógica desses fluxos reais que me jogam
A suposta razão que se explode na exosfera
Assim correntes dos choques imaginários me sufocam
Ao mesmo tempo meu espírito não sabe mais o que gera

Vejo um sol, o maquinário, circuitos e janelas ligadas
Parecem ligadas numa só tomada do entendimento
Essa osmose me supersatura com milhões de telas conectadas
Com a energia e a matéria que transmutam o comportamento

Oh! Camas espaciais! Sobrevoam diversas esferas celestiais
Com o caixote humanóide que se transfigura
Empurrando-me o vento com imagens descomunais
Desde o primeiro devaneio até a última loucura

Miguel

A luz do dormir acordando e acordar dormindo

Sente uma estranha gravidade ampliada
Como um universo vazio do concreto
E sua matéria com a quimera acordada
Que a alma sobe e o corpo vai ao fundo direto

Um cometa que o arrasta em sua calda amarrada
E o clarão da manhã que nos olhos bate
Dopando também de uma luz drogada
Quer acordar, mesmo preso ao combate

Assim como a sombra se amplia no fim da declividade do ângulo do sol
E sua luz choca e espanta o sentir do corpo
Ver sonhar de uma morte profunda não sendo causa o etanol
A estranheza que se aparenta com um semimorto

Imagina um zumbi que não é mais humano, um vegetal
Que o corpo levanta e o leito vai junto
O cinza mistura o ciclo homogeneíza anormal
Perdeu a idéia do escuro e do claro, seria o se sentir defunto?

É o primeiro, o segundo, o terceiro, até o quarto ao quadrado
Quer deitar-se e levantar do túmulo, viver ou morrer
Quer dormir e acordar e sentir-se levantado
Expulsar o dia na noite e a noite no amanhecer

Miguel

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Eu, ele, eu e ele, nem eu nem ele, eu no ele...

Quando me olho no teu espelho tenho medo
Pois, a reflexão do teu eu em mim
Me sufoca a ponto do suicídio.
Se eu pudesse ser eu, sozinho
Seria o que você me vê.
Mais isso não pode acontecer
Só vejo a frente, e o reflexo do espelho
Que não sou eu, é ele!
Ele me vê, mais eu não sei se sou eu,
Pode ser que ele veja as frustações dele em mim.
Mais se ele me vê e eu não,
Como posso aceitar que um corpo estranho e diferente
Veja o que é meu em mim, no reflexo do outro?
Se o outro é outro, e eu não se vê
E sim pelo contrário pode se ver em mim
Da mesma forma como eu o vejo sendo eu
Então, dessa forma não podemos nunca nos ver
E o que vêem em mim nada mais é doque o desejo de ser,e é
Mais com a reflexão imaginária do outro.


Gilmar Sullevan

domingo, 18 de julho de 2010

O tempo


Vivendo temporariamente programado
Tenho a leve impressão exata
Que o tempo passa rápido
E eu no tempo fico sem o mesmo.
Na verdade ainda tem tempo
O problema é que vivo em função dele.
Tudo está programado!
Tenho prazo inicial e final
Data de fabricação e validade.
E esse tempo, fruto do abstrato humano
Surge, cria-se com o objetivo de controlar o próprio homem
E eu forçadamente despercebido
Sigo esse "trilho"!
O "trilho" da falta de tempo de "eu" pra "eu"
Pra lhe dar mais tempo
O tempo que eu perdi para servir o teu.


Gilmar Sullevan

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Coreto

Pássaros, cães, gatos, crianças e senhores
Passeiam por entre estas pequenas varedas calçadas
Mágia magnifica essa que é liberada na tarde
Quando se olha as crianças brincando na grama
Refletindo o sol, na testa já suada.
Casais se envolvem nos bancos e árvores
Num alvoroço que até parece antropofágico
Mais não é nada mais do que o desejo feroz
Que este ambiente provoca nos corpos juvenis
Alguns dali tocam violão, outros riem e outros choram
Árvores de longo toco e poucas folhas, mais que falam por si um tempo
Minha tristeza é sentar aqui e ver que tudo passa
Assim como também passa o coreto nos olhos de uma criança
Que reflete a felicidade despercebida nos olhos de um adulto
Que riu e chorou aos braços destas belas sombras nas manhãs, tardes ou noites
E que verá e sentirá toda essa felicidade na face do seus filhos
No que foi e será cenário simbólico, da pureza ao roubo legitamado
Da juventude a velhice, mais mesmo que o ofusquem ainda brilha: pois tú é o coreto.


Gilmar Sullevan

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Humano

O humano é tão tolo que limita-se a si mesmo: Antropocêntrico.
Quer compreensão do tudo: nada.
E o nada como ridicularização do real lhe parece tudo.
Como me parece que o conhecer: nada.
Nada é essência do tudo: todo.


Gilmar Sullevan

quarta-feira, 2 de junho de 2010

“O ser e o Infinito.” Uma interpretação da Poética incoerente do eu mesmo.

Esse ser aparentemente enxerga tanto seu meio externo como o individual e a relação entre o eu - eu e o eu - externo. Li a “perspectiva estética do Rei Bosta”, tem uma relação próxima, mas no contexto das Leis e Juízos que são rompidos na poesia, permitem-se romper-los até “certos limites” no real, as pessoas perdem muito tempo preocupadas em dar sentidos às coisas que por si criam-se necessidades não obrigatórias, para dar sentido para si em busca de preencher vazios através do outro para forçar sua justificativa a uma perfeição moralista.

Mas o indivíduo dito “liberto” se permite chegar ao êxito, mesmo que se destrua, outras questões e buscas colocam-no nesse sistema circular, o indivíduo sabe das implicações dos seus “atos” ou não, mesmo assim, os tornou “infinito”, não se arrependendo, ele quis aquilo a todo custo, se depois ele enjoa, “espanca” no sentido de reconstrução pessoal, do sentido de si no mundo e se renova em seus conceitos, traindo o conceito anterior, em parte, porque ele sabe que são fatos em que não há necessidade de martírios por si e pelo externo, As convenções o forçam, ele “sente”, e “finge” acreditar nelas como uma forma de não perder o que se quer na medida em que não pode, porque as perdas são maiores do que os ganhos, ele sabe dos seus limites diretamente ou não. Sabe que erra, acerta e se fode também, mas que em parte, sente-se autônomo noutra como ser, ele os questiona, porque eu devo achar belo? Porque eu devo concordar, porque eu devo aspirar? O que Absorvi é valido até qual ponto? Mas as vezes sigo minhas aspirações p/ não cair no vácuo que me reserva. Se sigo será que não que não vou cair noutro vácuo?

Nesses questionamentos ele conclui o que tem validade para si, mas nem por isso ele IGNORA o outro de fato, acredito que me equivoquei nessa palavra, deveria ser ele questiona as imposições externas, também critica si mesmo e se reavalia. Aceita os “erros” como construção, por isso ele quebra os juízos de valores “dogmáticos” e, contraditórios e não dignos de ser absorvidos como causa de adoção, reavaliando como circulo, mas posicionando em todo seu complexo individual de tal forma que aceita que tudo faz parte daquilo que lhe constrói como indivíduo dignos de ser eterna enquanto aceitos e escolhidos, essa liberdade tem um significado de sua posição transformante de si e do seu posicionamento circular, porque é um mesmo esquema que forma sua construção e reconstrução, também questiona o externo, ele toma a posição de poder discordar, ao invés de ignorar. Mas de fato esse vácuo remete à continuidade da quebra de concepções.

Certas contradições no sentido do meio externo fizeram-me refletir sobre determinadas questões morais, esses conflitos no próprio individuo conseqüente ao meio externo, esse ”ser” enxerga esses conflitos, só que ele não está preocupado em traçar uma reta concreta e exata sobre si (porque no fundo essa reta EXATA e projetada não existe no concreto, em busca do perfeito, ele quebra a cara, ou seja, a autonomia torta inicialmente compreende que é um mecanismo de “certeza nas incertezas” circulares, é um traçado original, poderia dizer torto, por si assumir suas reformulações e avaliação do que lhe envolve.

Ele sabe que é imperfeito, e se admite como imperfeito, e agindo mesmo que limitadamente, age no meio... Essa compreensão meio que responde muitas questões, o seu modo de sentir-se no mundo, é aquele grito que depois vem alivio de desabafo, todos defecam, urinam e pediam. Estão condenados a levar suas “misérias, juntas de si para sempre” porque fugir do que se é? Por que atribuir valores simplórios aquilo que não deseja e é inútil em relação à si ao externo. Ele se questiona até onde as coisas para si, podem ser vistas com justificativa suficientemente de serem válidas e até quais pontos?

O “externo parcial” que ele vê, se irrita e o rompe, age de tal forma de querer esconder de si e do outro ao mesmo tempo, querer força ambos que “cagar, mijar e peidar” são coisas feias e reprimem através do externo muitas vezes por merdas que são “alheias”, tentam suas vidas esconderem as merdas que aparecem todos os dias (fuga de si) e a noção de suas escolhas e fuga dos conceitos pessoais, é colocar a existência ao nada, é querer ser algo que nunca vai ser e julgar a si e o outro, a preocupação nesse caso do seu “externo-externo” é maximizar o eu em fuga da merda escondida no porão, e problemas que buscam dar sentido as coisas em si baseado no externo, ao mesmo tempo que critica o que se quer para justificar sua inoperância ao seu desejo possível.

Tentar estabelecer linhas imaginárias sobre si que contradizem o que são no real, uma busca ao concreto=nada, que realmente não o são e nunca serão, enquanto os “dejetos” são expulsos órfãos, o ser está condenado à ter a lembrança do seu dejeto quer queira quer não, então a solução mais fácil é rejeitar, ao mesmo tempo se relacionado com si e com o externo, imagina-se um indivíduo de escolhas, e essas escolhas são projetadas dos desejos, desejos como algo que ele sabe que não tem p/ onde fugir, imagina possíveis conseqüências, mas ele sabe que foi aquilo que escolheu e não tem como negar o que é, sendo algo que mesmo não sendo o que quis, está condenado à suportar, abraçar, goste ou não aquilo que se tornou.

“O ser (que se assume como é) e o eterno” ele não é inoperante, muito pelo contrário, ele avalia a si e o externo, e vê o que é válido ao ponto de ser aceito ou refutado, então dentro de uma temporalidade limitada, naquilo até certo ponto a determina como “infinita” justamente porque o esquema [ser renova], mesmo sendo temporais, volta-se ao ponto de partida do esquema seus círculos se reformulam ou se completam. Mesmo reconstruindo posteriormente isso o torna algo que o tranqüiliza (em parte), por que justamente ele é imperfeito e admite sua imperfeição, e espanca justamente o que é traçado como algo ideal a seguir, por que justamente ele enxerga como falhas para se adotar aos agarramentos inquestionáveis e inconsolidados inexistentes, em suma, é mais fácil ser uma “merda” e assumir a merda que se é, amando-a, que ser outra merda qualquer se projetando o sorvetão recheado no meio da fossa...

(MIGUEL)

O ser e o infinito

O que sente e finge crente
Aquilo que percebe e não acredita
Ama da mais absurda à sublime escolha
Da sua trágica fraqueza oculta
E a trai com a própria vontade
Reconhece a pequenez
E os inimigos com a sua leve sinceridade
O que não se surpreende
Que leva tudo ao eterno ser
E ignora o “ter-de-ser”,
A razão, o imaginário, os valores, o belo,
O fútil, o virtuoso, o bem, o mal,
A regra, a poesia dita bela,
A cosmologia simbólica e a moral
Possui a liberdade de não querer,
Não se arrepender, não ganhar, de buscar,
Vencer, perder, superar,
Se espremer e gritar
Rir da miséria da alma
Abraça e espanca o eidos da existência,
O espírito liberto
Rompe os juízos de valores
Que nos caracterizam meus senhores
Levando-o ao infinito dos próprios atos
Com o qual está no mesmo universo eterno a girar no existir!

(Miguel)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ar, Mar e Roda

Girando a roda no ar,
No mar gira a roda de ar,
Na roda de ar gira o mar,
No mar de ar gira a roda,
Ar, mar e roda a girar.

(Sullevan)




Gilmar Sullevan

sexta-feira, 7 de maio de 2010

No fundo

No vazio das ondas sonoras
Vejo o mundo como um fio que se quebra
E que o momento vazio do pensar
Nos faz entrar numa ciranda a rodar
E ai retorno ao momento mais “puro”: a infância.

Assim como estar no mesmo vazio
Sendo auditivo, abstrativo e emocional
Nós questionamos o incerto, o objeto perdido.
Olhamos para nos mesmos e mesmo diferentes
Por sermos iguais, somos humanos.
(Sullevan – Miguel)

Tópicos para formação do entendimento de alguém

- Compreensão: talvez este seja o ponto crucial em qualquer situação que transcenda o espaço individual, que permeie as relações interpesso...