O século XX, foi um século de muitas mudanças e fortes tensões, das Revoluções Russas como descreve Daniel Aarão a partir das várias revoltas populares com a insatisfação perante o tzarismo , destaque para a Revolução Russa de 1917, da industrialização alemã, da I Grande Guerra (1914 – 1918), o crack da Bolsa de Valores em 1929 em Nova Iorque, nos EUA, a II Guerra Mundial, e os conflitos entre os países do bloco capitalista versus o do bloco comunista, denominado Guerra Fria, que termina com a desarticulação da URSS em 1991.
As mudanças experenciadas pelas sociedades do século XX ficaram marcadas na história, foi o fim da Belle Époque. Período de temor das grandes nações, de uma corrida imperialista, fortalecimento econômico, concretização do capitalismo, afirmação da democracia, de fome, insegurança e guerras, marcado pelas incertezas. Um 'século sombrio' como denomina Francisco Teixeira: “sombrio no sentido de que as luzes brilhavam de forma intermitente, obscurecidas por períodos de escuridão e trevas... guerras, genocídios, pobreza de massas, extremismo e opressão... um lugar de purgação.”
Não haviam mais colonias a conquistar e nesse processo de amadurecimento do capitalismo a luta agora era por novos mercados consumidores, formar novos impérios, onde as potências possam estender seus domínios, subjulgando e impondo ao outro suas maneiras e modos de ver a vida, através do uso da força e de avanço do poder bélico das potências. Ainda é um mundo marcadamente eugenico, onde os principais líderes políticos e boa parte da sociedade acredita na naturalização da desigualdade e não na sua criação/fabricação, como forma de legitimar o poder, na crendice da superioridade da “raça branca”, no etnocentrismo e no darwinismo social.
Nesse contexto surge a 1ª Guerra Mundial. É uma guerra por buscas de novos mercados, ao mesmo tempo que aparecia o temor da ascendência de outras potências. Uma guerra de avanços nas “tecnologias da morte”, cartuchos metálicos, tanques, aero-naves, bombas de gás, submarinos onde se encerrará o cavaleirismo de guerras anteriores. É uma guerra imperialista de contenção e exibição do poder bélico.
A economia agora mais do que nunca fomenta as desavenças, ordena e orienta o mundo, nesse contexto, o presente trabalho enfoca nas relações da Crise de 1929 com o desencadeamento do fascimo alemão, o Nazismo.
Não foi uma simples crise,as crises são fatores comuns no mundo econômico e de fácil contorno e adaptação, foi um colapso no mundo, uma freada/parada brusca na prosperidade econômica do mundo, foi um colapso globalizante, que atingiu dos centros às periferias. A crise de 1929 começa com o “crack” da bolsa de valores em Wall Street na cidade de Nova Iorque, mas atinge dos países desenvolvidos aos subdesenvolvidos, tendo como marco o dia 29 de outubro “a terça-feira negra”.
A taxa de desemprego vai a números inimagináveis, não havia uma previdência pública eficaz e as poupanças privadas praticamente somem. O protecionismo econômico foi um dos principais fatores que levaram a este colapso, este esforço em proteger seus próprios mercados, em uma balança comercial favorável, acabou por desenvolver este “demônio” que assombrou tantos países e levou tantos empresários e investidores ao suicídio.
O colapso foi fator imprescindível para os fascismos e os desdobramentos da 'II Guerra Mundial', tornando Hitler no senhor da Alemanha. Os Estados Unidos saiu fortalecido ao fim da I Guerra enquanto a Alemanha que acabara de iniciar seu processo de desenvolvimento econômico se ver refém das potências vencedoras e sufocada pelo Tratado de Versalhes com fortes cláusulas geográficas, militares, moral e financeira. É da crise e dos medos que se apropriam alguns indivíduos e se avança em muitos países uma esquerda radical, que diz restaurar o Estado com várias políticas públicas.
No âmbito das relações políticas, passou-se a desejar governos fortes, autoritários, capazes de superar em eficiência os instáveis sistemas parlamentares. No plano ideológico, assistiu-se à valorização da força, da vontade e da ação... o inconformismo com o resultado da primeira Guerra Mundial voltou imediatamente à tona. (GONÇALVES, 2005, p. 169).
O alemães agora juntam suas revoltas e insatisfações derivadas do resultado da I Grande Guerra, mais a crise do capital financeiro, a fome, o desemprego, para um Estado totalitário que coloca a culpa no gay, no judeu, no cigano, somados a discursos inflamados de resistência e de luta contra o inferior, a raça ariana teria que fortalecer sua honra, sua coragem e seu exército. O partido Nacional Socialismo (Nazismo) chega ao poder por vias “democráticas” e “legais” como analisa Francisco Teixeira, com apoio de boa parte da população, de movimentos conservadores e liberais.
Os inimigos são eliminados logos com a ascensão do Nazismo, que busca revisões no Tratado de Versalhes, fortalece o Estado, articula um exército e toma medidas importantes para o reerguimento a economia alemã. A Alemanha realmente consegue se reerguer da crise de 1929 o que anima e fortalece o apoio de boa parte da sociedade.
A crise de 1929 foi o estopim do fortalecimento de vários Estados totalitários em vários países no mundo, o antiliberalismo será tema nos discursos, com atenção para um exacerbado nacionalismo, centradas na figura de alguns homens, neste caso Adolf Hitler, tornando-se mártir de uma causa, centro de uma lota, a encarnação do Estado no próprio ser. Diante disso restam as desgraças, as mortes, o terror, o medo, este realmente foi um século “sombrio”.
CONRAD, Joseph. O Coração das Trevas. Trad. Albino Poli Jr. L&PM, 2002.Filme recomendado: Paradise Now. (Dir. Hany Abu-Assad, 90 min., 2005).
FERGUSON, Niall. A missão. In: Império: como os britânicos fizeram o mundo moderno. São Paulo: Ed. Planeta, 2010.p.134-181.
FRIEDLÄNDER, Saul. A Wermatcht, a sociedade alemã e o conhecimento do extermínio em massa dos judeus. In:BARTOV, Omer, GROSSMANN, Atina, NOLAN, Mary (Orgs). Crimes de Guerra: culpa e negação no século XX. Difel,2005.p.53-66
GONÇALVES, Williams da Silva. A segunda Guerra Mundial. In: FERREIRA, J., REIS FILHO, D.A., ZENHA, C. (Orgs.). O século XX: o tempo das crises – revoluções, fascismos e guerras. Civilização Brasileira, 2005.
REIS FILHO, Daniel Aarão. As revoluções russas. In: FERREIRA, J., REIS FILHO, D.A., ZENHA, C. (Orgs.). O século XX: o tempo das crises – revoluções, fascismos e guerras. Civilização Brasileira, 2005.p.35-60.