sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Antropofágico do Eu

Mostra-me tua verdadeira face

Tão diferente desse seu teatro no rosto,

Assim como aparecem essas tuas unhas sujas.

Faz o coração bater como na fotografia...

Não vá pra perto da cidade!

Ficar perto pode ser estar preso num labirinto.

Sujo, faminto, embriagado de dor.

Morfologicamente metarmafoseando-me...

De ser forte, torna-me-a um ser de osso e pele

Antropofágico do eu.

Chuvas de granizo ferem-me a pele e os ossos que me restam.

Mais a dor, abstrata, torna-me cada vez mais pensante.

Vejo luzes de fugacidade, elefantes e outros animais,

De pelúcia, pano ou espuma que reluzem aos meus olhos.

Distante do lar, distante dali e de lá,

Mais próximo de mim...

[Gilmar Sullevan]

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pulsão de morte

O que é um pensamento?

Não trago dados do IBGE,

Não uso o materialismo histórico

Não sou evolucionista,

Talvez um outro “...ista”

Poderia falar da China e a destruição do meio ambiente

Das Coréias no Ringue,

Os EUA dizem querer paz. Paz?

Olhe o brasileiro!

A pimenta Gota nos olhos da gente

O desemprego aqui, o caos no Rio Janeiro

Os traficantes enfrentam a polícia

Na África está a fome e a peste,

No México alguma milícia

Hu Jintal, Obama e o Papa são “os maiorais”

A barbárie bate na porta do mundo

O “Chapolim colorado” não nos defende mais

Pois, “os olhos e ouvidos” fazem parte da boca

O cérebro é o intestino grosso

E os lindos lábios, um ânus

O pensamento é uma digestão do mundo,

Juntos com esse mesmo mundo,

Saímos por esses mesmos lábios com batom e mel

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Vermelho-Sangue

As mesmas. E aquelas... Continuam iguais. Lá tem(latem) tudo, ou melhor, perdeu tudo quando me aborreci e saí. Mas trago comigo algo único! Mais que já perdeu o sentido. Mais é a única coisa, que me resta, e a única coisa que desde novo carrego comigo, que é essa camisa... Que já é velha, assim como eu! Mais essa camisa é como a casa do caracol, sempre a carrego comigo, eu carrego essa camisa. E sempre a levo, sempre levo de novo, é sempre mais do mesmo, é sempre nada, mais é a minha camisa.

Desisto! Não quero saber! Se viver sorrindo é andar sobre os trilhos da própria história, tão ignorante por sinal.

Peço desculpas, pois o que sei fazer é refazer...

Mais essa camisa é de linho nobre, se não me engano é pura seda. E ela é tão nova e tão velha.

Tão colorida que me ofusca os olhos e a todos que a encaram! Mangas compridas, detalhes vermelho-sangue, e não tem nenhum rasgão, nem um único fiozinho desfiado. Faço tudo com essa camisa, e as meninas gostam, elas riem, imploram pra tocar a camisa, o problema é que no final elas sempre choram!

Sempre carrego essa camisa comigo, é como se eu me transformasse quando a visto, e ele é tão vermelha e tão bela, tão singela, tão triste.

Trago este cigarro amargo pra pensar nesta camisa, vermelho-sangue, claro sempre levo meus braços, unhas e dentes, para defenderem está velha camisa, que trago sempre comigo.

Na verdade essa blusa era de outra cor, mais não me lembro que cor era, nem se era uma cor... O importante é que é vermelha com tonicidade de sangue, é sangue! São minhas vítimas, é sangue meu, é em mim que sangra, é o meu vermelho-sangue de sangue.

É sangue que jorra como chafariz em praça pública, é minha lágrima ensaguentada, é o meu existir, por isso carrego sempre essa blusa vermelha comigo, é com ela que enxugo minhas lágrimas, é com ela que carrego outros sofreres, é com ela que me aqueço, é com ela que choro, que rio, me afogo, mais é sempre com ela que me embriago, que me entrego, que me nego, e assim como os bêbados defendem o “sagrado” direito de se embriagar, também tenho o direito de chorar, sonhar e sofrer com minha camisa vermelho-sangue as lamentações do existir.


[Gilmar Sullevan]

Tributo "...aos mortos da ilha da ilusão, durante a última revolução dos corações e das paixões..."

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Contrário

Em uma terça nublada de outubro, Davi volta da escola para sua casa. Cansado, ele almoça com sua mãe. Ela estava preocupada com o marido alcoólatra que estava muito doente e prestes a perder o emprego, pois, o chefe da repartição pública havia ameaçado de despedi-lo caso ele não largasse o vício. Há poucos dias havia terminado o contrato do Davi com uma empresa de comunicações e ele estava à procura de um trabalho que desse para segurar a barra. A mãe do Adolescente preocupada com sua feição pergunta:

-Você está com algum problema meu filho?

-Sim mãe, eu não estou muito bem no colégio, quero me concentrar nos estudos como deveria e conseguir um emprego que dê para segurar os problemas financeiros de casa. Esses problemas e mais um pouco andam tirando a minha atenção das coisas que estão ao meu alcance.

-Está certo meu filho, espero muito que você consiga.

Depois de tomar seu banho, o rapaz passa alguns minutos em frente ao computador. Abre o email e pergunta ao seu amigo Rafael o que ele estava fazendo naquele instante, o mesmo não responde. Então, Davi decide abrir sua gramática e durante a segunda pagina de análise sintática um sono cai instantaneamente sobre ele. Resolve dormir alguns minutos, são 3 da tarde. O sono e o medo simultâneos não deixam ele conseguir dormir nem levantar-se para continuar seus afazeres, o café não resolveu o problema. Exatamente às 16hs ele dorme profundamente e poucos minutos depois, acorda em um lugar estranho:

-Que lugar é esse? Porque eu vim parar aqui?

Seu amigo Rafael aparece e lhe responde a pergunta

-Te achei próximo à escola, você estava andando de pijama com sua guitarra nas costas. Te trouxe até aqui para descansar um tempo, não sei como conseguiu andar dormindo da sua casa para cá, mas está tudo bem, você pode pegar uma roupa minha emprestada caso queira.

Davi confuso e sonolento levanta-se e observa que a casa estava cheia de visitas. Avista na sala, um amigo do antigo colégio onde estudava, o amigo se chama Alex, que tinha lhe ensinado os primeiros acordes, estava também Lucia, ex-namorada do Rafael e alguns colegas de sua sala. Eles passavam alguns dias por lá. Após Davi falar com todo o pessoal, distraiu-se um tempinho tocando algumas musicas com o Alex, já que não o tinha visto há tanto tempo.

Três pessoas saíram da casa por alguns instantes, Alex, o Rafael e a Lucia saíram minutos antes. Davi não havia percebido a saída, pois estava concentrado no novo equipamento que o amigo tinha mostrado. Então olha para o seu relógio e são exatamente 17h, o apetite já soara em seu estômago.

Dani, colega de sala do Rafael havia preparado um banquete, Davi não sabia nem por onde começar. Após o término da refeição ele encontra o Rafael em frente a casa com Lucia.

- Jantou Davi?

- Sim Lucia, aproveite enquanto está quente na mesa. Dani é fantástica, prepara pratos deliciosos mesmo.

- Está certo, vou lá conferir então.

Lucia sorri e entra. Rafael convida Davi para ir a venda que ficava algumas quadras dali, para comprar alguns alimentos e materiais de limpeza. Já que ele estava com visitas, teria que repor os utensílios necessários. Davi olha para o relógio e percebe que já são quase 18 horas. Enquanto isso, Rafael fala durante o caminho.

-Velho, fiz uma loucura quando saí com a Lucia. Transei com ela na escada do prédio em construção da escola. Jurei que não ficaria mais com ela, mas acabou acontecendo. Está tudo bem, não vai ocorrer nenhum problema por causa disso.

-Pois é meu caro amigo, nem tudo acontece da forma que planejamos.

Enquanto isso, eles andam por uma rua meio calçada com muita terra, existe um fábrica de móveis. Em poucos instantes, essa fábrica lança uma água sobre a rua deixando-a encharcada de lama, obrigando os dois garotos a andarem pela calçada. Através do portão aberto, eles enxergam vários funcionários lavando o galpão. Davi sente um incômodo após a água ter molhado seus pés. Olhando para o relógio, vê que são exatamente 18h e 30. É noite, de repente viu tudo escurecer. Assim, o garoto encontra-se na cama, enxergando uma luz fraca vinda da sala através da porta do seu quarto escuro. Levanta-se ainda um pouco embriagado do sono e pensa o que teria acontecido possivelmente nas ultimas horas.

-Merda! Foi um sonho? Como posso ter certeza que é o meu quarto realmente? Dormir pelo dia e acordar à noite não é nada comum.

Indo ao computador, Davi lê o Email respondido pelo Rafael, enviado às 18h e 30:

-Amigo, dormi durante à tarde. Acabei de me levantar e li a sua mensagem agora.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Euforia

Corro, paro, volto, vou,

Pra dentro, pra fora, de um lado pro outro,

Rápido, devagar, quase lesma!

Pra cima, pra baixo, no meio, na ponta,

De carro, de “bike”, a pé, a cavalo...

No ar, no vácuo,

No céu, no mar, na terra,

Na serra, na montanha, na gruta,

Em casa, no trabalho, na rua,

No sol, na lua, em marte...

Na mochila, no tênis, na reta,

A seta, a meta, a bola,

Que horas?

O bonde, a ronda, a onda,

O tiro, a pedra, a areia,

A escola, a sala, a mala,

O nascer, a vida,

A MORTE.


[Gilmar Sullevan]

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cópia

O homem não consegue viver sem as suas lacunas de respostas,

E por isso cria-se o divino herói, que de tudo sabe e que tudo pode.

Ao mesmo tempo em que emigram num imenso mar de cópias.

Seus exemplos de vida baseados na admiração, ilusão.

Deixa de transcender, para ascender uma figura endeusada.

Engessa-se, mumifica-se psicologicamente, invariavelmente.

Numa tentativa frustrada de tentar ser o objeto refletor.

Coloca-se a disposição inteira e completa do outro,

Negando-se a liberdade, e condicionando-se a outro.

Ser livre é quase um acaso, mais que por acaso sou!

É aprender e conhecer os mais variados variáveis,

E moldar-se como “cópia” autêntica.

Sei que há casos que cópia é tudo que nos resta,

Mais se resta, sempre haverá um rosto moldado de restos novos,

E as interrogações me possibilitarão esse novo molde.

Não nascemos programados para sermos uni-copia,

Podemos ser um caso não por acaso.

Deixar escorrer por entre os dedos o sangue suado de poder ser,

Para deixa ser guiado por uma coleira, talhada em bronze

E ser puxado por um ser abstrato, que depende de mim para ser

Caso fosse, o que não é mesmo eu existindo.


[Gilmar Sullevan]

Tópicos para formação do entendimento de alguém

- Compreensão: talvez este seja o ponto crucial em qualquer situação que transcenda o espaço individual, que permeie as relações interpesso...