quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Vermelho-Sangue

As mesmas. E aquelas... Continuam iguais. Lá tem(latem) tudo, ou melhor, perdeu tudo quando me aborreci e saí. Mas trago comigo algo único! Mais que já perdeu o sentido. Mais é a única coisa, que me resta, e a única coisa que desde novo carrego comigo, que é essa camisa... Que já é velha, assim como eu! Mais essa camisa é como a casa do caracol, sempre a carrego comigo, eu carrego essa camisa. E sempre a levo, sempre levo de novo, é sempre mais do mesmo, é sempre nada, mais é a minha camisa.

Desisto! Não quero saber! Se viver sorrindo é andar sobre os trilhos da própria história, tão ignorante por sinal.

Peço desculpas, pois o que sei fazer é refazer...

Mais essa camisa é de linho nobre, se não me engano é pura seda. E ela é tão nova e tão velha.

Tão colorida que me ofusca os olhos e a todos que a encaram! Mangas compridas, detalhes vermelho-sangue, e não tem nenhum rasgão, nem um único fiozinho desfiado. Faço tudo com essa camisa, e as meninas gostam, elas riem, imploram pra tocar a camisa, o problema é que no final elas sempre choram!

Sempre carrego essa camisa comigo, é como se eu me transformasse quando a visto, e ele é tão vermelha e tão bela, tão singela, tão triste.

Trago este cigarro amargo pra pensar nesta camisa, vermelho-sangue, claro sempre levo meus braços, unhas e dentes, para defenderem está velha camisa, que trago sempre comigo.

Na verdade essa blusa era de outra cor, mais não me lembro que cor era, nem se era uma cor... O importante é que é vermelha com tonicidade de sangue, é sangue! São minhas vítimas, é sangue meu, é em mim que sangra, é o meu vermelho-sangue de sangue.

É sangue que jorra como chafariz em praça pública, é minha lágrima ensaguentada, é o meu existir, por isso carrego sempre essa blusa vermelha comigo, é com ela que enxugo minhas lágrimas, é com ela que carrego outros sofreres, é com ela que me aqueço, é com ela que choro, que rio, me afogo, mais é sempre com ela que me embriago, que me entrego, que me nego, e assim como os bêbados defendem o “sagrado” direito de se embriagar, também tenho o direito de chorar, sonhar e sofrer com minha camisa vermelho-sangue as lamentações do existir.


[Gilmar Sullevan]

Tributo "...aos mortos da ilha da ilusão, durante a última revolução dos corações e das paixões..."

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