Quando nos apresentamos ao mundo em uma simples descrição de rede social – porém se tem "a consciência de que a
metafísica é uma consequência de se estar mal disposto", como disse Fernando Pessoa,
imagino: como poderia saber quem sou, diante da infinidade de somas de causas
e efeitos de toda matéria e energia que existem no mundo desde o big-bang, e que construiu minha minúscula carcaça e tudo que gera significado posto na minha cabeça durante segmento da minha existência? Como poderia - também - descrever sinceramente
aquilo que minha cabeça se sabotaria a externar para vocês através dos
esconderijos do arco-reflexo do aparelho psíquico? Qualquer convicção incompleta
ou mentirosa sobre si mesmo para um fim prático será mais lucrativa ao eu e ao
mundo (por que não a esse?) do que o “eu” comprometido com a verdade do todo. Essa - a tal verdade do todo -, que é a equação em rede de tudo a todo tempo, que compõe o universo e o corpo
com uma cabeça que pensa si mesmo, não está ao alcance. O eu completo são
fragmentos soltos de um corpo: um pedaço do joelho amarrado a uma bola de ferro no fundo da
zona abissal; um dedo misturado a lava do manto inferior terrestre; o estômago que
está escondido no planeta Mercúrio e um pedaço do cérebro que ficou lá na borda do
universo, cujo primeiro raio de luz sequer chegou aos nossos olhos - mesmo com
a viagem de 13,2 bilhões de anos luz-, esses nossos pedaços de eu ainda não foram vistos.
Alguns outros pedaços são visíveis e estão aqui, mas a verdade do todo eu é um objetivo
inalcançável e talvez sem graça e quem sabe uma piada se fosse possível. Qualquer mergulho à jornada
da busca desse todo é uma viagem nauseante para todos os labirintos sem saída. Tendo isso em vista, só restam os pedaços práticos, o incerto a se administrar e o não-verdadeiro. Portanto: "Olá, sou Carlos, tenho 37
anos, casado, tenho duas filhas lindas e um pastor-alemão".
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