Que é a verdade se não uma capa que cobre perguntas
ainda não possíveis de serem respondidas acerca de nossa existência? Ela é o
conforto que, durante os momentos de maiores picos de nosso raciocínio,
assegura que estamos certos, nos dando uma sensação de segurança e
tranquilidade.
Possuímos muitas verdades. Temos uma verdade para
enxergar o mundo, para dizer o que são as coisas e os objetos ao nosso derredor
e outras, ainda, para acusar a outrem de não ver a nossa própria verdade. Ora,
se o que acreditamos é a verdade, o que é a visão alheia se não engodo para nós
e para eles mesmos? É assim que a lógica da verdade se desenvolve. Ela se firma
em um único ponto, devastando tudo e todos que não estão de acordo com ela.
Em um planeta caracterizado por incontáveis
manifestações culturais, onde muitas delas ainda nem foram sequer estudas ou
conhecidas, estabelecer verdades é quase que um assassinato em série de muitos
sistemas sociais. O que pensar, então, se transpormos esta linha de raciocínio
para as dimensões do Universo? Bilhões de planetas, milhões de galáxias e só
uma verdade! A nossa! Aqui neste planeta, sozinhos com nossa verdade! Um
verdadeiro enfado para nosso pequeno intelecto, salvo aqueles que estão
abraçados com suas verdades e cobertos com o aconchegante manto da sua própria
zona de conforto.
As nossas verdades foram desenvolvidas há muitos
anos e são sustentadas nas bases fortes da opressão. Durante séculos muitas
pessoas foram perseguidas, trancafiadas e mortas em nome da verdade. Esta
verdade, feita para afugentar o intelecto humano, foi e é um dos maiores males
já criados. Nos dias de hoje ela não mata em “espetáculos públicos”, como fazia
em tempos pretéritos, mas crucifica a sanidade intelectual do indivíduo
tornando-o um “oprimido-opressor”. Já dizia Aldous Huxley, que uma ditadura
perfeita seria capaz de destruir nossa própria vontade de buscar a liberdade. E
não é isso que faz a ditadura da verdade?
Os portadores da verdade, a quem Friedrich Nietzsche
chamou de “Pregadores da Morte”, são o principais agentes de opressão. São
indivíduos extremamente apegados a vida! Tão apegados as coisas mundanas que
esperam viver, mesmo depois de morrer! Ora, quem espera andar em ruas de ouro
nos planos espirituais, que segundo a Teologia é desprovido da matéria como a
conhecemos de fato, nada mais demonstra que uma vida de apego as coisas
terrenas, e é aí onde está sua própria verdade.
Dentro de um contexto de fracassos, catástrofes,
guerras e epidemias de doenças, pela qual já passou a raça humana, Zygmunt
Bauman orientou que temos de questionar todas as premissas ditas
inquestionáveis. Mas tente questionar uma verdade e fará um inimigo! Eis o
dilema da natureza da verdade que não permite diversidade e que a quer proibir
e igualizar tudo, até a forma de pensar. A esta razão, que coíbe outras
maneiras de pensar, o filósofo austríaco Paul Karl Feyerabend dispensa dando um
breve e irônico “Adeus” por ser totalmente desnecessária.
Esse texto não é uma verdade e nem deve ser tomado
com tal. O mundo e o universo precisam de versões, não de verdades. Não dessa
verdade que mata e que oprime, que prende e seduz, pois “não há fatos eternos,
como não há verdades absolutas” (Nietzsche).
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