Quando nos apresentamos ao mundo em uma simples descrição de rede social – porém se tem "a consciência de que a
metafísica é uma consequência de se estar mal disposto", como disse Fernando Pessoa,
imagino: como poderia saber quem sou, diante da infinidade de somas de causas
e efeitos de toda matéria e energia que existem no mundo desde o big-bang, e que construiu minha minúscula carcaça e tudo que gera significado posto na minha cabeça durante segmento da minha existência? Como poderia - também - descrever sinceramente
aquilo que minha cabeça se sabotaria a externar para vocês através dos
esconderijos do arco-reflexo do aparelho psíquico? Qualquer convicção incompleta
ou mentirosa sobre si mesmo para um fim prático será mais lucrativa ao eu e ao
mundo (por que não a esse?) do que o “eu” comprometido com a verdade do todo. Essa - a tal verdade do todo -, que é a equação em rede de tudo a todo tempo, que compõe o universo e o corpo
com uma cabeça que pensa si mesmo, não está ao alcance. O eu completo são
fragmentos soltos de um corpo: um pedaço do joelho amarrado a uma bola de ferro no fundo da
zona abissal; um dedo misturado a lava do manto inferior terrestre; o estômago que
está escondido no planeta Mercúrio e um pedaço do cérebro que ficou lá na borda do
universo, cujo primeiro raio de luz sequer chegou aos nossos olhos - mesmo com
a viagem de 13,2 bilhões de anos luz-, esses nossos pedaços de eu ainda não foram vistos.
Alguns outros pedaços são visíveis e estão aqui, mas a verdade do todo eu é um objetivo
inalcançável e talvez sem graça e quem sabe uma piada se fosse possível. Qualquer mergulho à jornada
da busca desse todo é uma viagem nauseante para todos os labirintos sem saída. Tendo isso em vista, só restam os pedaços práticos, o incerto a se administrar e o não-verdadeiro. Portanto: "Olá, sou Carlos, tenho 37
anos, casado, tenho duas filhas lindas e um pastor-alemão".
terça-feira, 21 de novembro de 2017
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
E esta tal "mãe natureza"?
Se fôssemos seguir essa
analogia errônea do título sobre a relação do homem com tal mãe, a humanidade seria um filho viciado em crack, cuja única
finalidade seria consumir e tentar - e apenas tentar - controlar a própria morte em um
segmento do futuro. Essa mãe continuará a viver após a morte do seu filho
e, por mais que a humanidade mate, roube e destrua tudo e a si mesma, a
natureza continuará, sem pessoas, por mais que essas se julguem importantes
sobre a determinação do futuro das coisas. A vida também continuará aqui ou em
outro lugar na galáxia ou no universo, haja vista a necessidade da contingência
da vida independer da vontade humana, logo as coisas em grande escala continuarão
coisas nesta ou em outra matéria. Além disso, a própria defesa romantizada da
natureza é uma atitude travestidamente egocêntrica, pois o homem quer instintivamente
sobreviver, adotando-se o lirismo do “que peninha mico-leão dourado” para
esconder a real perversidade: degradar tudo e os outros por um pouco mais de conforto. Portanto, nossa importância na escala do
início ao fim no espaço-tempo do universo é insignificante e o alcance da ação
da humanidade se estende da ruptura da vida local a sobreviver um pouco mais ou
um pouco menos. A necessidade do acaso, força real do universo, fará vida aqui
ou em qualquer outro lugar independentemente da obsessão humana em controlar, pois a natureza é não só nós, mas o resto do universo, alheio à consciência sobre as coisas.
Obsessão essa, importante relatar, é consequência de não podermos controlar o único futuro a que nos destina: a
certeza de nossa própria morte.
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