quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Feira

-Olha a macaxeira, batata e inhame!

-Aqui! Aqui! DVDs baratinhos!
Danielzinho e Forrozão quarto de Milha,
Lady Gaga, Asas Morenas e Metallica!
2 reais cada!

-Remédio milagroso, 3 reais
Cura tudo! passe 4 vezes por dia
e adeus dor na junta, osteoporose, dor nas costas,
bico de papagaio, tuberculose e tudo mais!

-Ei moço! Ei moço! Me dá um real!

-Arreios de couro aqui, tudo que você precisar em couro!

- Candieiro, pote e e fogão em Barro!

Liquidação! Camisa da Nike, 80 real. Tênis Adidas, 150 real!

-Moça, quer um frete?
Sim menino, até o outro lado da cidade te dou 3 reais
-Tá certo

-Promoção! Promoção!
Tudo em aparelhagem eletronica!
Aparelho de DVD, Video Game, Celular e Iphone

-Olhe a maçã, laranja, pêra e Jaboticaba!

-Rifa-se uma moto, 1 real o bilhete!

-Dá uma esmolinha pelo amor de Deus!

Enquanto esse cruzamento de realidades soam no território da feira, nas barracas de rocha divulgam:

- Notebook da Apple, Dell e Positivo.
Tudo em 10 vezes sem Juros aqui no Gbarbosa,
nossos funcionarios irão te atender, é só chegar!

-Promoção! leite em pó de 500 Mg e manteiga 150 Mg da Natville, por apenas 7 reais.

-Cama, sofá e Guarda-roupa, monte sua casa por um preço pequinininho! Aqui na movelaria Glória.

Um encontro:

-Olá comadre, tudo bem? como anda a família?
-Tudo certo. E no seu sítio, como tá? choveu por lá esses dias?
-Não, mas com fé em Deus e São Pedro, vai dar um bom feijão nesse ano!
-Vamo andando Mazé, que o caminhão vai sair daqui a pouco,
antes de voltar pra roça vou passar no ali na "Norma" pra comprar o tamanco na promoção de 200 real!
Semana passada comprei um Nokia N97 de 8 GB pra minha fia, guarda foto que é uma beleza, só compro coisa boa!
...

-Olhe a maçã, laranja, pera e jaboticaba!

-Carne de boi, frango e peixe!

2 comentários:

Gilmar Sullevan disse...

Texto interessante...
Tenho muito carisma pela feira caro Miguel... Acho a feira muito parecida com as relações de mercadoria da idade média, embora esse não seja um bom termo... Principalmente quando se trata da feira de Glória (ainda província).
Muito bom texto... Bastante descritivo! Mas que ao mesmo tempo intiga a conhecer...
Faltou citar Manoel Moveis, Avelan, Jometal, entre outras empresas escravistas...

Miguel Torres disse...

Valeu pela comentario George!

Vou tentar revisar algumas correntes da geografia analisando esse fenômeno brevemente:


Na geografia clássica, tendemos a imaginar o espaço como homogêneo, com características marcantes de uma paisagem uniforme com funções determinantes ou condicionantes, por sua vez tendenciosa à um objetivo específico.

A Teorética quantitativa montaria uma análise conjuntural de números de barracas, pessoas, mercadorias e construiria gráficos, tabelas e outras formas de quantificar o espaço lendo suas relações através dos números num método hipotético-dedutivo...

Os Geógrafos críticos pensariam o exemplo como um território de consumo, de um circuito inferior aos de escala global, competindo também com as empresas que fazem o monopólio do comercio e da industria local, ao mesmo tempo vemos a fome. Seria um território de contradições, ao mesmo tempo de relações inferiores aos monopolistas, os feirantes migram de cidades para as mais próximas para conseguirem vender o estoque.

A Geografia Cultural pegaria esse fragmento da feira e analisaria os valores, modo de construção das barracas, pedaços vivos da história que ainda permanecem no sec. XXI em uma cidade do interior e suas relações sociais estreitas, objetos, utensílios, hábitos linguísticos peculiares nessas relações misturadas com culturas de várias categorias do espaço, até o global.

A Geografia Humanista buscaria captar dentro da subjetividade de cada indivíduo analisado, sua relação afetiva com o espaço da feira. Sendo como lugar de trabalho ou de lazer, ou um ambiente do qual sempre teve o habito de frequentar e manter uma relação próxima com amigos que encontram. Se tratando pessoas da zona rural ou urbana. É um espaço para os que frequentam, constroem laços de emoção e afetividade.

A "Nova Geografia" ou "Geografia pós-estruturalista": Pega esses diversos recortes de histórias e relações específicas e monta um mosaico "impresso" de um espaço múltiplo de construção heterogenia, cada ser humano constrói sua uma relação pessoal com a paisagem, monta uma história dentre outras que dividem e misturam nesses recortes. Um fragmento do real que cruza com milhares de outras realidades que transcendem a homogeneidade das relações econômicas e culturais. Cada um constrói a paisagem, ao mesmo tempo em que absorve através das relações sociais e da linguagem grafadas pelos outros no espaço.



Acho que é isso... Grande abraço!

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