segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Hotel

-Olhem o morto! Ali no primeiro andar!

-De onde surgiu essa pobre alma? Porque suicidou-se?

As pessoas começaram a se aglomerar na porta do hotel assim que a notícia havia se espalhado. Na capital do sertão sergipano havia passado um alemão, que estava à 2 meses antes de arrancar a própria vida.

Sempre viajante, se instalava em diversos lugares. Trabalhava como representante de uma marca de fármacos. O nome desse personagem era Matthias Goertz. Solteiro, 36 anos, não tinha filhos, Haltern am See, pequena cidade da Alemanha era o seu lugar de origem. Ele estava passando um período pelo interior de Sergipe, levara além do trabalho, sua solidão, as angustias e os questionamentos. Depois de um dia inteiro de transito entre os hospitais, farmácias e clinicas. Matt havia marcado com a ortopedista de uma pequena clinica para jantar, o nome dela era Cláudia. A “simpatia” era presente no primeiro momento de encontro entre os dois:

-Caro amigo, não vou adotar a porcaria da marca do seu remédio. Não confio nesse laboratório. Possuem vários efeitos colaterais, o preço é alto e será um prejuízo grande para os meus pacientes. Você não para de insistir em me fazer adotar esse produto. Não quero, mas aceito aquela proposta do jantar da semana passada.

- Claro, discutiremos melhor essa questão do remédio, apesar de vários gênios da Universidade de Berlim não te convencerem, falaremos outras coisas. Agora vou às cidades vizinhas, a noite estarei aqui para o jantar.

-Passar bem.

Não parecia, mas Matthias estava cheio, muitas coisas já não acreditava como relacionamentos, tinha poucos amigos, havia namorado com poucas garotas. Aquele era o único trabalho que sustentaria o seu resto de carne sobre a terra e vendo a paisagem no ônibus em direção a outra cidade, ele pensa:

- Já não suporto mais, vou para Munique trabalhar no escritório da STW no próximo ano. Sair com aquela arrogante pode não ser uma boa idéia. Terminando o expediente vou comprar uma cachaça brasileira para “encher a cara” como dizem eles. Há muito tempo venho ficando paranóico e impaciente com tudo isso. As poucas pessoas que me restam estão distantes. Não sei como esse pessoal da America latina se prende muito à Deus, ele morreu a muito tempo, ficam segurando suas ilusões numa vida fajuta de existência. Não existe mais céu ou inferno, quero dizer, nunca existiu. Se preparem para a vida ou se preparem para o nada! Vou comer aquela Cláudia, chegarei bêbado e cuspirei na cara daquela vadia.

12 horas após o encontro, Cláudia espera Matthias no restaurante, a médica solitária está aguardando o possível homem do qual imaginaria algo:

-7 e meia, aquele homem não chegou, está por ai vendendo aquela porcaria, mas é uma gracinha, imagino que ele tenha algo interessante para conversar, pelo menos vou exercitar meu pobre alemão. Ops!

-Desculpe a demora, Cláudia, você está bela hoje, mas seus olhos de cansaço não me enganam. Você quer ir logo para casa. Não?

-Senhor Goertz, errado. O que te faz ser assim? Um péssimo ator. Estou querendo conversar, queria Sab...


-Cláudia! Estou de saída, marquei com outra mulher, enjoei da sua cara!

....

- Seu Idiota de merda!

Assim, Matt sai do restaurante, bêbado e inconstante. Vendo sua cama rodar, percebe que tudo já carece de um propósito. Começa a perguntar-se do sentido ide suas ações.

-Pra que me entregar à volúpia conflituosa daquela mulher? Depois estarei tão solitário e vazio quanto ela. Amanhã será como aqueles velhos dias.

Logo cedo, levanta-se numa manhã nublada, ainda soprando uma brisa gelada, parecida com a de Haltern Am See. Decidiu não trabalhar. E durante a tarde, a camareira do hotel encontra seu corpo enforcado através da janela. O alemão que trazia sua dor, não viu mais nada que o sustentasse naquele quarto. Apostou a saída para algo desconhecido, o nada, o retorno ou quem sabe, o céu e o inferno.

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